domingo, 31 de maio de 2015

SEDUZIDO

"...talvez seja essa tua força, invisível aos olhos humanos, que me seduz... talvez sejam apenas os teus olhos ou até mesmo, como já o tenho dito muitas vezes, a tua boca... talvez seja essa tua fragilidade ou essa tua doçura... talvez a tua ingenuidade ou até mesmo a tua garra... talvez a tua voz ou mesmo até o teu silêncio... talvez o teu tudo ou o teu nada... talvez seja essa tua pose de fazer face à luta ou a tua lágrima sentida... talvez a tua revolta ou até mesmo a tua cedência... talvez apenas o teu toque, o teu cheiro ou o teu beijo... talvez apenas o seres apenas tu e eu ser apenas eu... mas que me seduzes de verdade, não o posso negar..."

sábado, 30 de maio de 2015

A ESPERA

"... o tempo demasiadamente lento... as horas e os dias demoram eternidades... sente-se a pressa e as saudades... é preciso que as horas voem... é preciso que a manhã do dia seguinte surja rápida com a certeza de mais um dia que passou... é menos um dia na contagem voraz de quem sente desejo de um novo encontro para sentir a tal paz... a serenidade do abraço que nada tem de sereno mas de forte, de pura ternura e ao mesmo tempo de paixão... rege-se então a dádiva da presença... gostosa... imensa... e os corpos se abraçam num rodopiar sem fim, num beijo prolongado, doce, com sabor a jasmim... e a ternura e o amor não termina ali... prolonga-se na alma do sentir que se ama... perde-se então a noção do tempo que se ganhou na espera... é um momento mágico aquele em que enlaçados, deixamos de ser o que somos para passarmos a ser o beijo de um tão doce e eterno desejo..."

quinta-feira, 28 de maio de 2015

INTEIRO

“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”

quarta-feira, 27 de maio de 2015

ENTREGAS

“…olho-te e toco-te ao de leve… num gesto suave, lento, doce… olho-te e sinto o perfume da tua pele no momento em que nos aproximamos um do outro… olho-te e toco-te de novo… num toque em que se sente o calor da tua face tocar a minha… é o beijo que se torna desejo… olho-te e vejo-te como nunca te houvera visto… e não resisto a colocar um abraço num enlace que espero perdure uma eternidade… naquelemomento vivo o momento, mais um dos muitos momentos que se vive entre o anterior e o seguinte… segue-se o toque das mãos que se dão e se movimentam num bailar de vai e vem enquanto os passos se movem em compasso… e os corpos seguem o caminho do instinto… sossegam ao chegar… e de novo te olho num novo e delicioso olhar… e de novo te toco ao de leve num doce e suave acariciar… os corpos ofegantes emitem sinais de alerta para o juntar dos lábios num delicioso sentir de emoções que emergem da alma para a pele… e os sentimentos tornam-se actos… e os actos tornam-se vida de forma sentida em desejo contida no culminar do ser, do sentir, do estar, do amor que se recebe, do amor que se dá numa troca pura de entregas mútuas que se confundem numa só…”

terça-feira, 26 de maio de 2015

COESO

“…deixa-me dizer-te o que me vai na Alma… deixa-me contar-te o que sinto dentro de mim e mesmo fora de quem sou… dir-te-ia quem sou e o que não sou… mas não consigo mesmo que tente dizer-te o que este meu ser sente… é uma espécie de ausência de mim mesmo, uma dormência velada que foge de mim em loucura forjada… quero entender quem fui, quem sou e apenas e somente consigo querer dizer, porque contar, não vou poder… deixa-me, no entanto, dizer-te quem não sou, dizer-te o que não consigo ser e para isso já tenho forças dentro de mim para te contar o meu não e o meu sim… contar que não sou quem gostaria de ser porque o que quer que eu pudesse ser não seria, por certo, aquilo que vive no meu coração… dizer-te o que me vai na Alma seria fácil talvez se, com calma, pudesse entender a sua própria forma… mas, nestes casos, não existe qualquer norma que possa delinear um simples esgar que seja que possa gritar o que ela deseja… mas sei que ela não é o que ela gostaria de ser porque o que quer que ela pudesse ser não seria, decerto, o que mora em algo que nunca fenece… poderia, pois, dizer-te mil coisas que nenhuma seria a verdadeira… poderia pois esconder-te mil coisas que nenhuma delas estaria oculta porque me sinto aberto… deixa-me dizer-te, porém, que tudo o que vires em mim mais não será do que a imagem de alguém que não consegue ficar aqui, alguém que quer sempre ir mais além… uma meta que persigo a todo o momento, sem medo nem ressentimento… uma ida em frente na busca do exacto momento em que, sereno, coeso e firme sinta que sou o que do amor pleno em mim restou… ”

segunda-feira, 25 de maio de 2015

MAR

"..queria tanto ser o mar... para te sentir dentro de mim a nadar, esbracejando vigorosa e forte em longas braçadas de vida e respiração molhada... para sentir a tua pele húmida da minha maresia em total contorno da tua existência e contínua persistência... para teus lábios beijar com o sal ardente deste meu ser em contínuo movimento que de doirado e sedento se move para dentro... para teu corpo desejar e em ondas te tornar e à minha volta te jorrar quando na cálida areia me espraiar... para sentir o calor intenso do sol me banhar, aquecendo-me para que teu corpo não tremesse de frio ao em mim penetrar... para teus seios ondular na massa informe do meu ser que de moldável e suave permite a ternura em mim nascer... para sentir tuas fortes pernas afastar-me e em desenhos lindos e simétricos vencer a maleabilidade do meu ventre, para sempre... para em gotículas me espalhar na tua vida em crescendo quando nua na praia secas teu corpo ao vento num lânguido movimento... para te chamar e te ver correr para mim, a saltar, como gazela fugindo num monte de alguém que a quer caçar... para te chamar e te sentir mergulhar de braços estendidos e de cabeça defendida, numa entrada sulcando meus sentidos... para te aconchegar dentro de mim e com ternura te abraçar num longo e eterno movimento de loucura... para viver o instante do meu único momento insano na procura do ser que me fizesse ver que mais não sou que o desejo de te ter...
...e retomado do fim de tanto prazer, depositar-te na areia doce e quedar-me duma vez por todas, ali, parado, para te ver!...
...como eu queria ser o mar...

domingo, 24 de maio de 2015

PRESENÇAS

... as presenças são o tudo que se deseja viver... entrega-mo-nos ao olhar, ao toque, ao sabor, à doce noção de que estamos exactamente onde e como o havíamos desejado... as presenças são o terminar da ânsia e o início da suave cedência à ternura e ao começo da tão almejada aventura... as presenças são o tudo por que lutámos na véspera e na antevéspera e nos dias que as antecederam... não sabemos, à vezes, quantas vésperas esperamos até ao dia chegar... umas vezes, o tempo passa mais depressa, outras vezes, ainda que demore o mesmo, tendem a passar mais depressa porque a ânsia o empurra e o dia de amanhã torna-se o hoje futuro do dia de ontem que se houvera esperado... mas, passe o tempo que passar, as presenças que se tornam presença, esquecem a ausência e se transforma na entrega que se aguardou... e a presença vive das presenças que as ausências não deixam viver... e a entrega flui e o mel barra o pão doce do corpo que o forma ora em suaves sabores, ora em orgias de paladares que se confundem por tão diversos e contínuos em que se tornam... e as presenças amornam então em carícias que só mesmo as presenças permitem... mas o tempo voa e desaparece porque enquanto presentes não damos por ele passar... e, de repente, sem darmos por isso, a ausência se torna de novo presente na presença das presenças e deixa que estas esvaziem os corações numa dor surda e desmedida porque sabedores da partida... e as partidas aparecem de repente e as mãos tentam segurar o tempo que resta mas a força da partida depressa faz deslizar os dedos pelos dedos até ficarem no toque das pontas uns dos outros... fica também o beijo doce da despedida e o doce olhar, ainda que triste, da partida... mas breve, o sorriso de novo surgirá porque rápido uma nova presença virá e o ciclo se fecha num círculo de desejo até que uma nova presença se transforme ela só no mais terno e sedento beijo..."

sábado, 23 de maio de 2015

OUVINDO A NOITE

"sentado nesta cadeira de frente para o meu computador, numa mesa de madeira, branca de sua cor, eu teclo nas letras paradas ao redor dos meus dedos…preparo um texto, sem contexto, com uma textura qualquer, talvez de amargura…não me preocupa a forma, nem as palavras que me vão deslizar pelos dedos e destes para o monitor que, de vez em quando, olho prevenindo um possível erro de escrita…não me preocupa o tema, mesmo que sem lema não se torna um dilema neste plural sistema de escrever prosa ou poema… trata-se de fazer deslizar apenas o teclado pelos meus dedos e deixar sair as palavras da minha mente numa constante busca da semente do significado para aquilo que estou a fazer neste momento…e que faço eu, nesta hora, aqui, sozinho e agora, batendo lento ou apressado nas teclas do meu teclado…olho em frente e vejo um relógio que marca as horas lentas que passam por mim e que marcam o tempo de viver a sorrir e a amar…tudo e todos, sem olhar a quem…somente por amar… e que espero eu obter desse amargor doce da alma que sofrendo não chora, pelo contrário, vive e implora…e que espero eu senão encontrar o caminho mais leve que me percorra o corpo como quente neve branca como o luar que lá fora, no céu cinzento, teima em espreitar numa noite fria de chuva que se aproxima do meu solitário estar… não percorro os corredores do dia que passou nem choro as lágrimas que retive dos acontecimentos que por mim passaram como uma brisa leve pousando no lugar onde estou e me sinto pairar dentro do meu próprio eu… procuro o sentido da vida que não encontro, numa procura constante de mim mesmo, na luta insana da loucura que afasto de mim nem que seja por um instante… e esse instante está chegando na forma da noite que se aproxima, daquele estado de espírito que me anima, pois a solidão resta a meu lado sem um mudo som nem qualquer grito abafado de dor… e aqui fico… e aqui me quedo… esperando a noite chegar para nela me agachar e aninhar… povoar nela os meus sonhos de aqui me sentir e de aqui gostar de estar, neste lado do meu mundo, sozinho, de dia ou de noite, a mim próprio mentindo… mentindo-me em constante delírio duma busca que ufana luta me provoca na mente que, pensando, não me escuta… e não me oiço a pensar, nem quero sequer isso imaginar; oiço apenas a noite chegar e a sua escuridão me abraçar, sem me possuir nem me ter, apenas me rodeando de um leve prazer por ouvir os seus sons sobre mim verter… e vertem-se esses sons em pancadas surdas de palavras mudas, livres e desnudas de sentido ou de intenção… a noite traz paz ao meu coração… ouvindo-a, fico sossegado e dou a mim próprio a minha própria mão…segurando-me para não a possuir… para ficar aqui e não ir… senti-la apenas num, pequeno que seja, luxuriante som… ouvindo a noite, parto para o êxtase do meu ser, não pretendendo ver, apenas ouvi-la…
…dentro de mim, a bater…

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A MEDIDA DO AMOR

"...um dia, há milénios passados, perguntei se amar tinha medida, ou peso, ou tamanho; nessa altura, a minha caminhada ainda era prematura e ainda muito "verde" nos caminhos da vida… e nunca ninguém me soube responder e eu, ainda que repetindo a pergunta muitas vezes, nunca sabia "como" amar; se amar deste tamanho, se amar com este peso, se amar de determinada forma ou feitio… se amar tivesse medida eu queria amar com o máximo que ela tivesse... um dia, há milénios passados, deixei de me preocupar com a forma, com a medida do Amor; pela simples razão de que, durante toda a minha demanda, jamais houvera encontrado essa mesma bitola, essa fita métrica ou essa balança... e foi nesse momento, quando deixei de procurar como é que deveria Amar, de que forma é que deveria "usar" o Amor (como que fosse um componente para se fazer um bolo), que eu descobri que o Amor não tem medida... o Amor jamais se pode medir, o Amor apenas, é... é amando, é dando-nos completamente numa entrega absoluta, que se consegue amar... e quem o conseguir fazer, para além de tudo o que possa transmitir aos outros, será ele mesmo, uma pessoa inteiramente feliz... não, não amo muito... não, não amo com todas as forças da minha alma... não, não enlouqueço...
...amo, apenas..."

quinta-feira, 21 de maio de 2015

SONHO

“…Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso… a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima par a baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim… brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras… a beleza em ti não residia nem morava … era!… A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar… a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia sensual de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade… e tu, demoravas… da cómoda tiraste um frasquinho de perfume e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam… e a tua cama, ansiava pela tua presença… e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo… levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença… olhaste de soslaio e sorriste… sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria… Tiraste os teus pezinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito… a tua cama nem sequer se moveu… aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder… a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento… deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos… Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligares... os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia… e a tua cama sentia… na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão… olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente… avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento… a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente… em suas mãos te acabavas de entregar… e o sono chegou…. adormeceste… não sei mais o que se passou… a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu… a tua cama não se movia, com receio de te acordar... abraçava-te sempre para não te deixar fugir… sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali… tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas… a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha… sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia… nada mais desejava… queria apenas ser o teu sonho…”  

quarta-feira, 20 de maio de 2015

LENTIDÃO

“… o tempo demasiadamente lento… as horas e os dias demoram eternidades… sente-se a pressa e as saudades… é preciso que as horas voem… é preciso que a manhã do dia seguinte surja rápida com a certeza de mais um dia que passou… é menos um dia na contagem voraz de quem sente desejo de um novo encontro para sentir a tal paz… a serenidade do abraço que nada tem de sereno mas de forte, de pura ternura e ao mesmo tempo de paixão… rege-se então a dádiva da presença… gostosa… imensa… e os corpos se abraçam num rodopiar sem fim, num beijo prolongado, doce, com sabor a jasmim… e a ternura e o amor não termina ali… prolonga-se na alma do sentir que se ama… perde-se então a noção do tempo que se ganhou na espera… é um momento mágico aquele em que enlaçados, deixamos de ser o que somos para passarmos a ser o beijo de um tão doce e eterno desejo…”

terça-feira, 19 de maio de 2015

O AMOR É

“… há dias escrevi-te dizendo as razões pelas quais te amo… escrevi dizendo, afinal, que te amo porque te amo… mais tarde comecei a pensar se existe um momento a partir do qual se começa a amar e se esse momento existe, como sabemos então que se ama?... disse-te também há tempos que o amor não tem tempo nem espaço pela simples razão de que o Amor apenas, é… vive, subsiste, existe, está… é algo definido, concreto mesmo não sendo físico nem metafísico, o Amor é algo que é… sendo assim, não tendo o Amor tempo nem espaço e sabendo nós que amamos, como se sabe que se ama?... dediquei todo o tempo da minha vida à procura do Amor, na busca constante do meu “Graal”, na demanda do porquê do se ser e do se estar e das razões pelas quais aqui estamos… durante todos esses anos procurei e um dia (não interessa quando porque o Amor não tem tempo nem espaço) descobri que o Amor está (é) em cada um de nós… não é nada que se descubra ou possua ou se encontre… ele, o Amor, está em nós mesmos… se ele está em nós então ele é nosso, de nossa pertença e faremos dele o que bem se quiser… daí que, quando afirmo as razões pelas quais eu te amo, estou ao mesmo tempo a dizer que te amo apenas porque sei que o Amor que está dentro de mim, passa para ti… deixa de ser “meu” e começa a “existir” em ti porque apenas e só, te doo esse Amor, numa entrega sem pedir troca… dando-o, sei que o dou e nesse momento passo a saber que te amo… assim, só existe uma única forma de sabermos se amamos (ou quando é que sabemos que estamos a amar), é sabendo que o Amor que estava em nós foi dado a outrem, entregue simplesmente, como dádiva… e esse Amor pode estar num simples gesto, num olhar, num acenar, num toque, num sentir, não se ser o que éramos e passarmos a ser de outrem… nesse momento, quando nos sentirmos parte do outro, saberemos que estamos a amar… em contrapartida, quando soubermos que fazemos parte de outrem também saberemos que estamos a ser amados… porque apenas e só, o Amor… é...”

segunda-feira, 18 de maio de 2015

AMAR COMO O VENTO

"...Em cada relação que começa, a vida e o amor renascem. A paixão coloca cada pessoa num ponto alto e excepcional, inevitável e imperdível. Gostosamente. Mas as pessoas no seu melhor vêm depois, às vezes muito depois, quando se chora e luta, quando se aceita e se resiste, quando se constrói e quando se acredita. As verdadeiras relações, os grandes amores são sempre virtuais. Não por serem irreais, antes por serem imateriais, apesar de nos darem a ilusão de um corpo, de um suporte material que tocamos e possuímos, que acreditamos nosso, real, físico, material. Sentimos amor, quase conseguimos tocar, agarrar essa sensação. Dizemos convictos que é real. Olhamos o outro nos olhos e parece real, parece que o outro ali está e nos ama mais que nós... Mas ver, sentir, tocar, são formas de aceder ao amor, ascensores, facilitadores. Difícil mesmo é planar. As relações são feitas de ar, planar. É no vento que se ama. Talvez ser o próprio vento, e não a folha. Vê-se melhor o que é amar quando é difícil amar, aceitar que é sempre mais do que improvavelmente, um esforço, um desejo, um empenho pessoal em algo que materialmente não existe, não é palpável nem mesmo se sente. Nunca se ama realmente, a realidade do amor é nunca ser real. Virtual. No dia a dia, corpo a corpo, sonha-se o amor, sonha-se um amor virtual, que se não for virtual não é amor. Virtual porque não depende da presença do outro, da aparência do outro, do comportamento do outro. Um amar que perdura e se sustenta (Vento) mesmo quando não vemos o outro. Amar é memória, antecipação e crença profunda em memórias que hão-de vir. Virar a cara a quem nos vira a cara, sabemos todos que é real, bem concrecto, mas não é amar. Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar. É na paciência, na persistência que se mede o amor. Amar é escolher amar. Depende de quem ama e não de quem é amado. Depende do esforço e disponibilidade de quem ama. Ninguém merece ser amado, porque ninguém pode deixar de merecer ser amado. Não depende do mérito, não depende do comportamento, não se vê nem se comprova. Posso ter que silenciar, posso ter de partir... vai comigo o amor..."

sexta-feira, 15 de maio de 2015

SENTIDOS

“…trago comigo a seda do teu cabelo, a maciez do teu beijo, a doçura do teu toque, o brilho do teu olhar, a atenção do teu escutar… trago comigo, na minha pele, na minha alma, no meu coração, a tua essência aqui brotada em mim durante os momentos da fruição dos seres que se tomam serenos mesmo num simples abraço… é apenas um hiato de tempo este espaço que nos separa… de resto, tudo está aí como tudo está aqui… um saber de um sabor a sentidos vividos em amor…”

quinta-feira, 14 de maio de 2015

PAZ

“… o teu corpo doce, deitado no leito, de pura seda acetinada feito, exalava o perfume perfeito… deixava antever, sem te tocar nem sentir, o esbelto prazer de olhar para ele e bastar sorrir… mais não seria necessário se a força do desejo se quedasse por ali… mas a languidez da libido perfurava todo o sentido em te possuir… aproximei-me de ti sem te olhar e sem que me visses… era apenas um desejo que bastava que sorrisses para que eu parasse e não prosseguisse… mas os teus lábios carnudos abriram-se em pétalas desnudas e me sorriram num convite perfeito… o ardor estava ali, a teus pés e meu corpo teceu o desejado amor de tudo o que depois aconteceu… revolvemos a alma, os sentidos, a voz rouca, o arfar da pele, o toque no teu mar e o saboroso doce a mel… perfurei tuas entranhas em doces movimentos com forças tamanhas que te fizeram sugar teus próprios gemidos… a doçura perdura dentro de nós e antevê-se nos nossos olhos o desejo de, novamente, a sós, voltarmos a ser um só corpo e um só desejo num derradeiro lampejo de profunda paz… o deleite do amor que ele nos traz…”

quarta-feira, 13 de maio de 2015

DOAR

... abre-me os teus olhos e deixa-me mergulhar no teu olhar... abre-me os teus braços e deixa-me enlaçar no calor de um abraço... abre-me os teus lábios e deixa-me sentir o mel do teu beijo... abre-me o teu corpo e deixa-me ser possuído pelo desejo... abre-me a tua alma e deixa-me penetrar o teu ser... sentir tudo o que sei teres para me dar... amor de tanto amar... abre-me os teus ouvidos e deixa-me sussurrar as meigas palavras que tanto gostas de ouvir... e pele com pele sabermos que somos e sentirmos o doce aroma do mar que nos embala no cheiro da maresia que de nós mesmos exala... olharmos o interior do sermos apenas um acto de amor... mergulhar na seiva que a pele produz no sabor pleno em que tudo se transforma em luz... e o sol nos sorri, numa conspiração mútua do que ele sabe sobre mim e sobre ti... e o calor que nos abrasa arrefece-o porque mais forte que ele... e o amor preenche o momento em que nada mais somos do que pétalas suaves vogando nos ares como as asas das aves... e o seu planar, em pleno voo, de tanto sentirmos, tu te me entregas e eu a ti me doo...”

terça-feira, 12 de maio de 2015

E EM TI ME ETERNIZO

"...Os meus olhos pousam em ti e todos os meus sentidos te olham num delirar mútuo de atenção... Vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura... Cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz... Ouço o teu respirar lento, como um lamento que não lamento... As minhas mãos tocam os teus cabelos e envolvem-se neles... Acerco-me de ti e te toco... Te sinto global e ali inteira frente a mim... Beijo a tua boca e tudo se torna como num festim de doces carícias e sabor a sal... Estou inteiro no teu corpo inteiro e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim... É apenas um abraço, um enlace de braços que apertam sem apertar, sentindo apenas o teu respirar... Minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda... Fecho os olhos procurando apenas sentir... E sinto o desejo crescer em mim e o teu arfar sobe de tom... Como é bom... A minha boca se cola na tua boca e a minha língua se funde dentro dela como se da tua se tratasse... É apenas mais um enlace... Sinto o teu peito quente junto ao meu e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura... Loucura que me invade lentamente, premente ali presente ou então como se tudo mais estivesse ausente... Meus braços te envolvem e se descobrem momento a momento como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem... Sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor, oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor... Minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele, todos os recantos de teus encantos e se encontram, de repente, sobre o teu ventre quente, dolente... Afago tuas coxas e as tuas ancas e as aperto contra mim... Procuro o teu sexo e o acaricio... Beijo-te completamente num único beijo e me torno desejo do teu próprio desejo... Te envolvo num abraço mais e te penetro... És tu que me possuis... Não te tenho, és tu que me tens... Movimentos se entrelaçam como se não fossemos dois mas um só... Os nossos corpos se fundem num arfar profundo de loucura... Já não sei o que sou, apenas em ti estou... Eu sou tu e tu és eu numa fusão de ser e estar... Na verdade és tu que me possuis, eu não te tenho, és tu que me tens, em ti eu me dou...E em ti me eternizo..."

segunda-feira, 11 de maio de 2015

APENAS CORPO


"...hoje não te toco… hoje não te beijo nem te abraço... hoje estou quieto à tua disposição… apenas corpo solto sem amarras nem vontade... hoje não te toco… hoje só tu tens esse poder, o de me fazer ficar quieto inteiramente entregue à tua fantasia, à tua gula de prazer... o duche quente provocou em mim uma modorra e uma vontade enorme de nada fazer, nem de me mover… de corpo nu e ainda húmido, deitei-me na cama de barriga para baixo com os braços ao longo do corpo e com a cabeça olhando para a esquerda... fiquei assim largos momentos até te sentir entrar no quarto... pelo espelho da cómoda vi-te de corpo inteiro olhando para mim… sorrias e com muita lentidão começaste a tirar a toalha de banho que te cingia o corpo... ficaste nua nessa tua pele de cor acetinada linda que tanto me fascina... não vias que te via... aproximaste-te da cama e de joelhos te posicionaste junto do meu corpo... não me movi... nada dissemos... passaste tua perna esquerda por cima de mim e te sentaste sobre as minhas nádegas de tal forma que senti o teu sexo junto do meu rabo... já não te conseguia ver pelo espelho... somente te sentia, quente e fresca com algumas gotas de água morna caindo sobre as minhas costas... tuas mãos pousaram sobre os meus ombros e teu tronco se aproximou das minhas costas de forma a sentir o pousar lento dos teus seios... senti teus mamilos endurecerem lentamente pelo contacto e fricção que começaste a fazer… ao mesmo tempo, a tua língua tocava ao de leve a minha orelha esquerda provocando-me um arrepio de prazer... ficaste assim longos momentos, usufruindo apenas o contacto do meu corpo inerte... depois, senti tuas mãos mexerem-se por baixo do meu peito e apertarem forte os meus mamilos… desceram lenta mas inexoravelmente para baixo de encontro ao meu sexo… encontraste-o inteiro e duro e o acariciaste da forma que quiseste... teus seios continuavam a roçar as minhas costas e a tua pélvis insinuava-se cada vez com mais força nas minhas nádegas... levantaste-te o suficiente para que me fizesses voltar de barriga para cima… olhei-te e adorei teu corpo altivo sobre mim… na mesma posição em que estiveras, subias agora para que o teu sexo se sentasse literalmente na minha boca… não me movia mas não consegui resistir e a minha língua moveu-se dentro dele em movimentos doces… senti apenas a minha respiração compassada mas aumentando de intensidade por virtude do prazer que me invadia... ainda sentada dessa forma conseguiste num movimento gracioso inverter a posição de forma que fizeste uma inversão perfeita… estavas agora com a tua vagina na minha boca e com a tua boca brincando com o meu sexo... conseguimos estar dessa forma o tempo suficiente para enlouquecermos... naquele quarto nada mais se ouvia do que o arfar compassado das nossas respirações... comecei a sentir o agridoce gosto do teu mar escorrer pela minha garganta... já não estava a conseguir aguentar muito mais tempo e parece que adivinhaste esse momento… viraste de novo a posição de forma a ficares virada para mim e sentada sobre a minha púbis introduziste o meu sexo na tua vagina… senti a profundidade da mesma ser invadida vezes sem conta em movimento rítmicos... a intensidade aumentava segundo a segundo e num momento mágico sentimos que aquele seria o momento da fusão... foi aí que deixaste cair teu peito sobre o meu peito e abraçados então num abraço louco de amor profundo, senti teus lábios quentes junto dos meus e teu sexo vibrar em palpitações ao mesmo tempo que o meu orgasmo te invadia as entranhas... um som rouco proveniente das nossas respirações confundiu-se com os gemidos de prazer que deixaste então sair da tua alma… aquele momento não tem comparação com qualquer outro momento… é um momento único... hoje não te toco… hoje não me movo... hoje sou apenas corpo, loucamente louco..."

sexta-feira, 8 de maio de 2015

MAGIA

“…a magia não se vende, não se compra, não se cria… a magia pode estar apenas num sonho… nas tuas mãos… na tua pele… no teu seio… dentro ou fora de ti… a magia pode estar aqui…ou aí… a magia é o que quisermos que ela seja, um acenar, um olhar, um beijo, um dar a mão, um estar presente… a magia pode estar apenas num sonho, num local, em nós ou nos outros… pode estar no amigo que nos cumprimenta, no abraço ou no enlace… no corpo ou na alma… nos olhos, no rir ou na lágrima… a magia é o que quisermos que ela seja… não necessitamos de ser feiticeiros para criar magia… basta chamar por ela ou estender a mão ao feitiço… basta apenas isso… perder a razão, deixar de ter o siso… entender que a magia é real se dentro de nós existir um sonho… seja ele qual for… vamos prosseguir e persegui-lo… vamos atrás dele, devagar ou a correr, veloz ou calmamente… a magia é o que a gente quiser… basta desejar com força e ela estará logo em nós, ao nosso lado… às vezes nem precisa de ouvir a nossa voz… por ser magia ela sabe do que precisamos… então, vamos… vamos criar magia dentro do que tivermos para a albergar nem que ela seja apenas um sonho mas sem nunca esquecer que nesse mesmo sonho a magia pode existir e nos fazer sorrir…”

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O UIVO

...Levantou-se com um sobressalto, que a fez erguer a coluna num impulso sôfrego, um nó de desespero atado na garganta. Segurou-a com uma das mãos, como se contivesse a respiração ainda ofegante. A escuridão estava toda emersa numa tonalidade azul, criando uma atmosfera quase irreal no interior do quarto. Uma estranha luminosidade vinha do exterior, e penetrava no quarto pelo espaço entre as velhas cortinas desbotadas. Dirigiu-se à janela como se algo a chamasse. Espreitou por trás do veludo envelhecido do reposteiro e viu um vidro quebrado, estilhaçado no canto inferior esquerdo. Formava um desenho perfeito de uma teia. Tocou-lhe e automaticamente levou o dedo à boca, sugando o sangue do corte que acabara de sofrer. Soltou um breve gemido de dor, frustrado de fúria. Lá fora, a lua erguia-se gigantesca, majestosa, rodeada de uma aura azul intensa, que cobria todas as coisas de improváveis reflexos. Sentiu um incómodo arrepio, como uma fria corrente enferrujada a mover-se no interior da espinha. O espaço à sua volta, de súbito, ganhava novos contornos. Estremeceu perante um breve desacerto do mundo. Julgou ouvir ruídos, um estalar de madeira, ecos de passos atrás de si, o som das sombras a mover-se pelas paredes do quarto. Voltou-se e tremeu. Deu dois passos incertos, esquecida do próprio corpo. O chão estava alagado; os pés descalços enregelados. Ouvia uma torneira aberta, que pingava lentamente. O som adensava-se segundo a segundo, ecoava pela casa toda, cada vez mais próximo, cada vez mais grave, cada vez mais alto, com requintes de tortura. Segurou a cabeça entre as mãos, crispando os dedos entre os cabelos, tapando os ouvidos quase até ao limiar da dor. Enlouquecia. Abriu as portadas e saiu. Correu para a floresta que se estendia, negra e silenciosa, a sul da casa. Não se vestiu. A camisa branca de algodão finíssimo esvoaçava enquanto corria. Um som distante, longínquo, como um uivo, envolvia agora todo o espaço entre as árvores. Tudo à sua volta permanecia assombrosamente azul. Olhava para o céu e os seus olhos cintilavam, fazendo perguntas às estrelas ausentes. Correu a um ritmo alucinante, rasgando a noite escura com a sua deslumbrante figura pálida. Se pudéssemos congelar o momento, encontrar-se-ia a mais bela fotografia do mundo. Era atrás do lobo que corria. Um lobo que conhecia sem nunca ter visto, que a chamava sem nunca ter tocado um fio dos seus cabelos. Sonhara com ele durante seis noites seguidas, um segundo mais cada noite, até que o sonho a puxou para dentro e ela foi ao seu encontro. Correu atrás dele, movida pelo sonho, dominada pela loucura. Corria como se perseguisse a própria vida, e gritava. Gritava o nome do seu amor, como se lhe respondesse. Correu até ficar sem forças, lentamente vergou os joelhos e deixou-se cair no chão húmido. Tinha chovido nas horas anteriores, muito certamente. Cravou as mãos na terra até que esta lhe doesse, negra e perfumada, entre as unhas. Sentiu um frio muito fino percorrer-lhe a parte de trás do pescoço, desde a nuca, descendo até à cintura. Depois um calor imenso a escorrer-lhe pelos braços. Tinha o lobo junto do seu corpo, o seu olhar ferido de medo. Aproximou-se do seu rosto, conseguia sentir-lhe a respiração na face gelada. Mergulhou os dedos finos no pêlo em redor do pescoço, num gesto ambíguo. Como se segurasse, como se repudiasse. Sentia-o roubar-lhe o sopro de vida, ao mesmo tempo que a alimentava de uma inexcedível sensação de eternidade. A escuridão era tão intensa que a noite parecia estender-se sobre todas as coisas, sem limites, insondáveis as suas profundezas. Reinava uma calma inquietante. O seu coração pulsava acelerado dentro do peito, o olhar num fervilhar insustentável de paixão. Olhou à volta, demorando um segundo a reconhecer o espaço do quarto. Um segundo depois, o outro lado do pesadelo: Está um homem ao seu lado. Está frio. O branco dos lençóis tingido de vermelho. Do corpo imóvel e pálido escapa-se um fio rubro e espesso. O olhar preso no infinito. Um último gesto de angústia suspenso na mão. A boca entreaberta, fixo nos lábios um suspiro, com o nome do seu amor.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

PURO DESEJO

“… estendo as mãos ao passado na ânsia de o alcançar… revejo-me nele como se fosse hoje… mas depressa caio em mim e sei que estou a sonhar… nada mais que um breve sorriso e um beijo nuns lábios sedosos, como mel que ainda escorre na minha pele… um doce desejo de voltar a sentir esse doce desejo de abraçar-te num voltear de dança parada na imagem do momento ali focada… num sentir que nada se sente para além do amor que existe mesmo e não nos mente… lateja nas nossas faces de rosadas que se tornam da loucura que nos invade e das mãos que se movem na procura… cabeças que se tocam e se enlaçam em cabelos revoltos misturados com os dedos que os afagam… e os braços remetidos à sua função de prender ali, naquele momento, a eternidade do abraço… e os olhos se olham, se miram e sorriem enquanto os lábios se molham no mel de um beijo prolongado, húmido, molhado, doce doçura de tanta candura e desejo… e a boca de vez em quando entreaberta para pronunciar a palavra certa, a palavra aguardada, descoberta, límpida de tudo e do nada pela simplicidade da verdade que existe quando se pronuncia o quanto se ama, o quanto nos preenche e nos invade a Alma…”

terça-feira, 5 de maio de 2015

PROVA

... não existe forma de se provar ao ser que amamos que o amamos... não há sinais, nem falas, nem gestos, nem toques, nem palavras... não existe nada que possa significar ou ter o sentido de dizer e provar ao ser que amamos que o amamos... se não existe então forma de o fazermos, como podemos provar ao ser objecto do nosso amor que o amamos?... não podemos provar!... e não podemos provar porque não existe forma de o fazer, logo só o conseguimos amar se na verdade o amarmos... e é amando-o nas mais pequeninas coisas que, sem provar, lhe vamos dizendo que o estamos a amar... é preciso que o ser que é amado sinta que é amado e essa é a única forma desse ser ter a certeza que é amado... quem ama não pode provar que ama mas quem é amado sabe sentir que o é... logo, a forma de provarmos que amamos o ser que amamos é este ser sentir que é amado... e só este ser que é amado saberá entender a verdade do nosso amor... e então, aí sim, ele saberá que é amado nas mais pequeninas coisas que fizermos, que dissermos, quando tocamos, quando gesticulamos, quando lhe enviamos um sinal, um olhar, uma forma do nosso próprio estar que nos é peculiar e único quando estamos a amar esse ser... o ser amado saberá que o é mesmo que quem o ama não o consiga provar, nem metafórica nem fisicamente... amamos com o nosso sentir, com o nosso coração, com o nosso corpo e com a nossa Alma, mas todos estes elementos são refutáveis, logo só o outro, quem é amado, saberá distinguir do nosso sentir, do nosso coração, do nosso corpo, da nossa Alma, os elementos comprovativos do amor que por ele nutrimos... como sempre disse, amar é dar, logo só quem recebe é que sentirá essa dádiva... é pois, dando-me-te por completo, que te amo... é pois, recebendo-me por completo que sentirás o meu amor...”

segunda-feira, 4 de maio de 2015

VIVER

"... havia apenas um silêncio todo ele verde formado por árvores frondosas, um cheiro a erva, a pinheiro, a eucalipto e o marulhar de um riacho com o bater compassado da água nas pedras soltas do seu leito... o silêncio também tinha asas... eram os pássaros que não distingo as espécies, um milhafre e quem sabe talvez uma águia... era um silêncio que também possuía a qualidade de ser tocado, bastava para isso, abrir os braços e inspirar fundo a plenos pulmões e sentir o seu abraço dentro do corpo beijando a alma... era um silêncio feliz porque me fazia sorrir e cerrar os olhos para o ouvir... um silêncio que também se via mesmo sem o olhar... o silêncio puro, alvo, cristalino, todo ele formado de muitas coisas que o tornavam único... tê-lo ali comigo era uma espécie de bênção e senti-lo ainda me provocava mais prazer... deixei-me ficar, ali nele deitado a usufruir a sua existência... de olhos fechados sabia-me fazer parte dele... senti-o penetrar-me devagar com suavidade e deixei-me embalar numa canção sem acordes mas que me deixavam perceber o porquê de tudo... ali, uma só molécula e eu fazia parte dela... um só mundo... um só ser... o sagrado estatuto de viver..."

domingo, 3 de maio de 2015

DADO

... pedi para ver o invisível e deram-me a cegueira... pedi para ouvir o inaudível e obtive o silêncio... pedi para tactear o nada e consegui o caos do tudo... pedi sempre o que quer que fosse que me viesse à ideia e o retorno era sempre o oposto... a conclusão óbvia era não pedir ou então pedir apenas o real, o vivo, o palpável, o som, a luz, a beleza... nunca tive a certeza se terá sido a melhor opção... mas a verdade é que a partir do momento em que pedi apenas o viável, as coisas se tornavam passíveis de obtenção... pedi amor e tive-te... pedi um beijo e saboreei-te os lábios... pedi um abraço e amornei meu corpo na tua sedosa pele... pedi um toque e tive-te completa... pedi um olhar e consegui a imagem real... pedi um som e ouvi tua voz num doce dizer que me amas... pedi-te presente e tenho-te em mim por completo... pedi uma ternura e senti amor... pedi apenas o que podia obter e nada me foi por ti negado... senti-me preenchido pelas mais pequeninas coisas que de tão pequeninas se tornam no todo tão desejado... pedi para te amar e senti-me amado... que mais te posso eu pedir que já não me tenhas dado?...”