...eu
tinha qualquer coisa para te dizer, algo que já anda dentro de mim
há milhares de anos e nunca tive essa oportunidade... ...há dias,
quando surgiste na minha vida, um pouco alheada do próprio mundo,
quando ali surgiste espelhada na minha alma, eu estive quase quase
para te dizer... ...penso que me faltou a coragem e a voz se me
embargou… calei dentro de mim o que deveria ter gritado; talvez
tenha esquecido a forma de gritar, talvez só saiba calar... não
sei... já não sei... ...mas eu tinha qualquer coisa para te dizer,
algo que me possui e me rasga a mente, num acto demente do meu
próprio ser de aqui estar sem saber falar, sem saber o que te dizer,
sem saber gritar o que tanto tenho calado... milhares de anos de
silêncio dentro de mim... ...milhares de anos de solidão da minha
própria voz… milhares de anos de espera que surjas ali à esquina,
em qualquer lugar, e num momento de paz eu te possa gritar todo o meu
amor... ...áhh dor que dói e me corrói a alma de tanto calar esta
tão louca forma de te amar... dor de aqui estar e não saber o que
te dizer, de não saber traduzir esta minha forma de tão somente te
sorrir... ...e sorrio-te a todo o instante, aqui, ali, em qualquer
lugar ainda que distante... não me preocupa se me ouves, se escondes
as palavras que tão docemente me são devolvidas porque não
enviadas… doces palavras de paz, ternura, carinho, amor... em doses
de candura mas eivadas de toda a minha dor... ...estão aqui, eu sei…
mas sei, também, que tinha qualquer coisa para te dizer… como
posso gritar se a voz se me tolda em silêncios ocos e sem eco ou se
com eco ecoam apenas dentro do meu vazio, um vazio que não preencho
ou se preencho apenas o preencho com a minha própria alma já de si
tão gasta por durante todos estes milhares anos não me teres dito:
Basta!...
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
sábado, 5 de setembro de 2015
O PRIMEIRO
"...
havia uma necessidade enorme de estar lá... não era somente desejo,
era mesmo imperativo, quase mais que obrigatório... mas sentia que
as pernas não se moviam e os braços estavam caídos numa postura de
desalento... deixei-me ficar assim ainda mais um momento... tentei,
então, mais uma vez, caminhar naquela direcção e fiz um esforço
enorme para conseguir mover um pé... sabia que nem era necessário
ter fé, bastava mover o pé... senti que uma fina dor me percorria a
coluna mas nem por isso deixei de tentar... era preciso ir, era
preciso caminhar... no fim do caminho estava apenas a meta a atingir
mesmo sem saber qual ela era; no entanto, era certo saber que estava
no fim da estrada, no meio do arvoredo... olhei em frente, sem frio,
sem aquele frio do medo... havia apenas uns braços abertos e um
sorriso na face; e uns olhos brilhando... ouvia um som repetido, uma
batida ritmada... esse som chamava-me, clamava por algo que eu não
sabia ser o que era... num tremendo e último esforço a minha perna
avançou e senti que a coluna se fixou... houve uma espécie de
tontura mas o esforço valeu a força precisa para fazer avançar o
outro pé... nesse momento senti-me cair mas não cheguei a tocar o
chão... uns braços fortes enlaçaram-me e elevaram-me no ar... só
muitos anos mais tarde vim a saber que aquele tinha sido o meu
primeiro passo..."
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