terça-feira, 7 de novembro de 2017

MUSA


"...prostitui-me no teu doce corpo… sedento de beijos suaves… de prazer impuro… sexo, sede, fome, amor duro… no âmago da carne… num espírito de fogo ardente… lento e rápido… forte e demente… explodindo tudo… numa implosão desmedida… diz-me tu, oh musa divina… se fique, se me quede… se me vá de partida… diz-me tu, oh musa divina… se agarre, se me abandone… se vá vivo em tua vida…"

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

NO TEU COLO


“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…” 

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O DOCE ENVELHECIMENTO


“… recuo algumas décadas (intensamente vividas) do historial da minha vida e lembro que nada me fazia pensar, naquelas alturas, do momento em que viesse a “absorver” a inevitabilidade do envelhecimento… são alturas da nossa vida em que nunca se pensa nos anos que passarão (muito rapidamente) a voar e, um dia, sem notarmos a não ser duma forma muito patética que já passamos dos 50… mas, maravilha, ainda aí a nossa postura é de alegria: atingir a “meta” dos 50 é algo para festejar e a festa que a família e os amigos nos fazem é algo que jamais esqueceremos (relembro a minha algures nos finais de 1995)… depois, outra vez, muito rapidamente, de novo, atinge-se a barreira dos 60… nessa altura somos levados a pensar nos familiares que, anteriormente, chegaram a esse marco… depois, bem depois é um ápice e o dia a dia é tão veloz que as 24 horas parecem minutos a escapulirem por entre os dedos…
… e sorrio… sorrio porque por mais estranho que pareça, sinto-me feliz… sinto que já vivi tempos fantásticos… lembro-os com saudade é certo mas com a alegria de ter vivido cada momento, cada minuto como se fosse uma hora e o tempo não acabava e o dia era imenso, enorme, longo, perfeito e talvez eterno…
… estou, pois, numa altura da vida em que os dias passam com uma rapidez estranha mas, ao mesmo tempo, aceito esse facto como algo que assim tem de ser… e sorrio de novo por saber que estar aqui e agora foi o resultado do vivido nos momentos antes… e sinto uma serenidade estranha, algo tão diferente de todo o stress que foi então a constante absoluta dos dias que vivi e olho para o dia de amanhã como a meta que tenho de alcançar com a mesma calma com que alcancei o dia de hoje…
… viver, pois, o dia a dia num suave e doce abraço com o tempo que me é concedido, é a razão para olhar para a “frente” sem medos, sem receios, sem preconceitos…
… aos mais novos, aos meus filhos, aos meus netos, a toda a gente que está vivendo a vida que eu já vivi apenas digo que vivam todos os momentos com intensidade, que agarrem os minutos fazendo deles eternas horas de alegria… que não pensem em coisas tristes porque viver é uma bênção e como tal deve ser absorvida…
… espero viver ainda muitos anos e em cada dia que viver amanhã e nos seguintes eu sinta que foi mais um minuto que tive para absorver tudo o que o Universo me deu, me dá e me dará… e saber que afinal de contas o envelhecer é suave e doce como um gelado que nos escorre pela garganta e nos dá um saboroso, doce e suave prazer…”

quinta-feira, 20 de julho de 2017

A CALMA


... a calma tinha-se aproximado de mim como não me conhecesse... eu já a conhecia há muito pese embora os grandes momentos em que não a via ou não me encontrava com ela... porém, naquela vez, ela fez de conta que não sabia quem eu era... aproximou-se mansamente e como quem não quer a coisa, saudou-me ao de leve com um leve acenar pela passagem, pelo encontro... não lhe liguei demasiada importância mas educadamente correspondi ao seu aceno e sorri-lhe... foi nesse momento que ela olhou para mim e, de chofre, me perguntou: - Porque sorris?... Naquele instante não encontrei resposta mas uns segundos após, saiu-me uma frase lenta e suave: - Porque não haveria de sorrir?... Acho estranho, disse ela: Estás sempre preocupado, cheio de problemas, a tua cabeça é um vulcão, a tua alma desespera, o teu coração bate e os teus olhos não choram... Pois, respondi eu, eu sei mas por vezes caio em mim e entendo que de nada me vale o lamento; por certo que estou errado quando desfaleço e sentado ou deitado me concentro nas agruras da vida; depois penso que a vida é apenas aquilo que dela fazemos, aquilo que dela queremos, aquilo que dela podemos tirar... a vida nada nos dá excepto ela mesma, ou seja, ela se nos entrega numa única vez e após instalada em nós, somos nós mesmos que a gerimos... temos esse poder, o poder de moldar os dias, as horas, os minutos e até mesmo os segundos dos nossos momentos aqui e agora, ontem e, quem sabe senão ela, também amanhã... somos nós que decidimos enfrentar ou não o momento que se nos depara, seja ele bom ou mau... é apenas uma questão de escolha... mas tu não eras assim, disse-me ela, a calma... sim, eu sei... na verdade, a vida foi tão diversa e tão cheia de coisas e coisas que houve vezes em que não te consegui enfrentar ou mesmo aceitar e desesperei... porém, houve também momentos em que soube que me podias ajudar... por isso te sorri agora... sei que me podes inundar e tornar-me pleno de mim mesmo e conceder-me ainda mais a capacidade de me dar ainda mais do que já tentei... sei que me ajudarás... porque me trazes a sabedoria, a sensatez, a alegria, a ternura de me saber feliz ao sentir que amo, que o caminho que percorro é o único que me pode serenar, o único que me pode pacificar, a caminhada plena para amar... e, com amor, se ama e com amor se preenche a nossa vida, mesmo para além da morte... por isso, hoje, te sorrio por saber o quanto amo quem amo, quem me dá a plenitude da serenidade, num amar terno e seguro, forte e puro, real que de tão real, a ti o juro...”

terça-feira, 11 de abril de 2017

O AMOR NÃO SE ESGOTA


"... e o amor não se esgota nos momentos em que os amantes se encontram... o amor perdura para além deles, dos momentos e dos próprios amantes... o amor fica em cada um como uma marca no tempo que vai para lá do tempo em que foi... o amor vai com cada um e reaje ao menor sinal de memória... reactiva-se a si próprio quando já lá não está, naquele momento em que se ama... eleva-se para além da sua meta e tenta chegar ao momento seguinte, momento esse que não se sabe se vai existir mas que se deseja e do qual se sabe apenas que será um novo momento... o amor não se esgota no momento em que os corpos se esgotam e descansam... o amor vai além desse esvair porque se não for nunca será amor... o amor não se esgota no peito de cada um porque continua na memória de ambos... o amor é isso, é saber que não foi só e apenas aquele momento... o amor prolonga-se a si próprio para além de si mesmo e daqueles que o vivem... o amor está para lá do próprio amor..." 

terça-feira, 4 de abril de 2017

MOMENTO


“...ama-me com força, com amor, com dor, com sol, com alma, com ódio, com riso, com choro, com doçura, com mel, com fel, com frio, com mãos, com corpo, com olhos, com línguas e olfactos... ama-me com dorso, com costados, com palmas, com gelo ou com fogo... ama-me com garra, com pena, com ternura ou com censura... ama-me um minuto, uma hora, um dia, uma vida, um momento ou uma eternidade... ama-me no ventre ainda ou já com muita idade… ama-me com siso ou indeciso, com chuva, com vento, com água, com sal... ama-me por um momento que seja para que esse momento perdure na vida ainda que essa vida não perdure nesse mesmo momento!...”