quarta-feira, 29 de julho de 2015

POST MORTEN

"... na verdade, esta moldura é a minha prisão... de tão perfeitos traços me retrataste que me sinto afogada neles como se eles fossem a minha própria alma, o cerne do amor que nos inundava enquanto a vida me era dada para viver... lembras-te, meu amor, de todas aquelas cartas que te escrevi enquanto presa dentro de outras grades, linhas estreitas que me afastavam de ti ou que te afastaram de mim... nunca soube o porquê e essa dúvida, que ainda hoje, aqui de cima mantenho, será a minha companhia na eternidade... é ela também que me concede a possibilidade de te ver aí olhando-me aqui nesta parede nua, dentro de mim mesma vazia e tão prenhe de linhas com que me vestiste naquela manhã na cozinha no banco sentada, rindo-me da tua certeza... meu amor, a paz que me preenche não retira a dor que mantive e que comigo trouxe... a paz que me preenche é uma paz por amor a ti mas a dor essa jamais sairá de mim... é um pouco como eu nestes riscos presente na tua mente quando daí em baixo me olhas... resta-me a doçura da lágrima que vejo cair da tua face nesse chão carcomido pelo tempo que não nos foi concedido... dor de mim em teu peito também ele dorido..."

2 comentários:

  1. Olá, Joaquim!

    Li, alguns dos seus magníficos textos, e nos sentidos ficou-me o gosto e o odor das lembranças, que nos dão vida e nos matam por dentro, também.
    Escreve muito bem, como sabe, e o amor, tema principal da sua escrita, é aquela "coisa", sem a qual, dificilmente conseguiremos sobreviver.
    Não encontrei, aqui, comentários, mas há quem escreva para si próprio, e com as mais diversas finalidades.

    Bom fim de semana!

    ResponderEliminar
  2. Boas férias, se for o caso.

    Abraço-o!

    ResponderEliminar