“… porque
te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?… para
te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?…
porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz
que te cega?… para não olhares, para não veres o que sempre
desejaste ver?… porque me dizes que sim quando do teu peito sai um
gritante não?… para não teres de balbuciar um talvez?…porque
pensas que pensas o que não pensas?… para pensares no que eu
penso que tu pensas?… não, o melhor é mesmo não pensares…
porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos
estão presas e cheias de dúvidas?… porque desejas libertação se
o que intimamente queres é estar quieto na bonomia do turbilhão?…
porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a
negrura da alma que te compõe o sentir?… porque não mentes se é
tão doce mentir?… porque não calcas a doçura do mel?… porque
não espezinhas a palavra calada?… porque não escreves o nada que
tens para dizer?… que te disse eu que tu já não soubesses?…
aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?… que
sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas
uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou
apenas de sabermos que nada sabemos?… porque te manténs sentada de
pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?…”
terça-feira, 30 de junho de 2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
DOCE
“… deixa
enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e
enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua
fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo…
sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te
junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu
sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus
lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de
tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que
quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na
tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas
e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha…
humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos
circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala…
sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir
que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar
nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que
não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro…
deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele
é uma parte do meu eu verdadeiro…”
sábado, 27 de junho de 2015
ANATOMIA DO BEIJO
“…coloco
um beijo na palma da minha mão e olho-o para o estudar, para o
entender, para saber algo mais sobre ele… a sensação é apenas de
toque suave dos meus lábios na palma da minha mão… nada mais
retenho que o saber que senti a minha pele tocada pela minha própria
boca… preciso saber mais sobre o beijo… examinar minuciosamente
de forma a sentir o beijo como algo físico, palpável, real…
então, aproximo-me de ti e olho-te nos olhos, nesses olhos que
brilham dentro de mim como se tu não estivesses ali mas aqui, como
se tu fosses parte do meu ser… toco-te com as minhas mãos nos teus
ombros e dou um passo em direcção a ti… tua face serena, abre-se
num sorriso… levo a minha mão aos teus cabelos e acaricio-os
deslizando na seda dos mesmos… os nossos corpos encostam-se ao de
leve num toque global presente sem ausência de sentidos, bem pelo
contrário, com os sentidos todos em alerta… olho a tua boca
entreaberta nesse sorriso que me encanta e seduz… és luz… és
sol… és brilho em meu redor… humedeço meus lábios e
aproximo-me lentamente da tua face… toco com eles ao de leve na
pele que reluz perante o meu olhar… sinto o sal… um sabor leve a
mar… os meus lábios tocam as tuas pálpebras fechadas para receber
o meu beijo… sinto um suave sentir, um sorrir no olhar como se de
outra boca se tratasse… retiro a minha boca e olho-te de novo…
preciso saber o porquê do beijo saber a tudo o que tu és, numa
dimensão de ser paz, doçura, mel e mar… vejo-te humedeceres os
teus lábios e muito suavemente toco-os com os meus… mantenho a
minha boca ao de leve no teu lábio superior e de seguida saboreio o
teu lábio inferior… e sinto amor…sinto que preciso de sentir
mais, de saber mais e melhor o porquê da paixão… é nesse momento
que toco em completo a tua boca e saboreio o mel que tal sensação
me transmite… as línguas tocam-se ao de leve para em seguida se
fundirem num só beijo, num só toque… já não são duas bocas que
se beijam pois é apenas o beijo em si mesmo que ali se encontra, se
forma, se transmuta, se torna ávido e sereno ao mesmo tempo…
mantemos o sentir tais sentidos, leves, lábios mordidos, línguas
entrelaçadas e o sabor doce penetrar em permuta o âmago daquela
sensual luta de pele com pele, de alma com alma, de corpo com corpo…
e a paixão nasce daí e cresce em mim como em ti… saboreamos o
momento… entramos em transe e deixamos de ser quem somos… e o
beijo perdura num planar de doçura… e o beijo se torna dono de nós
num galopar de sensações plenas, profundas mas de tal forma suaves
e serenas que o beijo deixa de ser beijo para passar a ser desejo…”
sexta-feira, 26 de junho de 2015
AMO-TE
“…amo-te
porque te amo… porque me sinto bem quanto te olho… quanto te
toco… quando te beijo… quando sinto a tua pele perfumada junto da
minha… quando te vejo sorrir para mim… quando ouço a tua voz…
quando te ris… quando me tocas, me acaricias e me fazes sentir
homem… amo-te quando me dizes que também me amas, quando me dizes
gostar de mim, quando me olhas e vejo no teu olhar a tua alma e o
reflexo da
minha… quando sabemos que nada mais no mundo nos importa… quando
sentimos que tudo o que gira à nossa volta está parado e somos o
centro de tudo… amo-te quando te digo que te amo, quando te
sussurro palavras ternas, quando ouço as que me dizes… amo-te
quando me dás um mimo, um sabor, o roçar ao de leve ou mesmo forte…
amo-te porque te amo… porque te sinto bem quando me olhas… quando
me tocas… quando me beijas… quando sinto que sentes a minha pele…
quando te sorrio… quando ouves a minha voz… quando me rio…
quando te toco, quando te acaricio e te faço sentir voar… amo-te
quando estou aqui ou aí… amo-te mesmo quando não estamos ou não
somos… amo-te porque sei que te amo, porque sinto que te amo,
porque vivo esse amor duma forma terna, doce, suave e pura mesmo
quando os corpos se entrelaçam e vibram em loucura… amo-te assim,
tão simples…tão tudo em ti e em mim…”
quinta-feira, 25 de junho de 2015
PURA SEDA
“… o
teu corpo perfeito, deitado no leito, de pura seda acetinada feito,
exalava o perfume perfeito… deixava antever, sem te tocar nem
sentir, o esbelto prazer de olhar para ele e bastar sorrir… mais
não seria necessário se a força do desejo se quedasse por ali…
mas a languidez da libido perfurava todo o sentido em te possuir…
aproximei-me de ti sem te olhar e sem que me visses… era apenas um
desejo que bastava que sorrisses para que eu parasse e não
prosseguisse… mas os teus lábios carnudos abriram-se em pétalas
desnudos e me sorriram num convite perfeito… o ardor estava ali, a
teus pés e meu corpo teceu o desejado amor de tudo o que depois
aconteceu… volteámos a alma, os sentidos, a voz rouca, o arfar da
pele, o toque no teu mar e o saboroso doce a mel… perfurei tuas
entranhas em doces movimentos com forças tamanhas que te fizeram
sugar teus próprios gemidos… a doçura perdura dentro de nós e
antevê-se nos nossos olhos o desejo de, novamente, a sós, voltarmos
a ser um só corpo e um só desejo num derradeiro lampejo de profunda
paz… o deleite do amor que ele nos traz…”
quarta-feira, 24 de junho de 2015
O TEU SONHO
“…Em
frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho
forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos,
num ritual que funciona mesmo sem dares por isso… a escova passava
ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos
sedosos, cor de mel e de marfim… brilhavam no espelho e te revias
momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia
pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras… a
beleza em ti não residia nem morava … era!… A tua camisa de
noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e
redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao
olhar sem ser preciso tocar… a tua cama de lençóis de prata,
aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te
espera num desespero de intocabilidade… e tu, demoravas… da
cómoda tiraste um frasquinho de perfume e te ungiste com ele o que
provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam…
e a tua cama, ansiava pela tua presença… e o teu corpo demorava a
conceder-lhe esse desejo… levantaste-te de frente do espelho e te
miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e
bela naquele quarto iluminado pela tua presença… olhaste de
soslaio e sorriste… sentaste-te na beira da cama e esta suspirou
docemente perante a antevisão de que breve te possuiria… Tiraste
os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho,
levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao
prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito… a
tua cama nem sequer se moveu… aquietou-se para não te perturbar,
para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com
medo que te levantasses e ela te voltasse a perder… a tua cama
inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se
ficar aguardando o teu próximo movimento… deitada de bruços te
deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na
almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma
noite de descanso e de sonhos… Teus olhos semicerrados viram a
lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de
cabeceira para a desligares… os teus movimentos eram
propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que
aquele que já existia… e a tua cama sentia… na obscuridade do
teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na
sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão…
olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz
cinzenta duma lua crescente… avizinhava-se uma noite de lua cheia e
teu corpo descansou por um momento… a tua cama então suspirou e te
abraçou fortemente… em suas mãos te acabavas de entregar… e o
sono chegou…. adormeceste… não sei mais o que se passou… a
noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu… a tua cama não
se movia, com receio de te acordar… abraçava-te sempre para não
te deixar fugir… sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de
impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter
tendo-te ali… tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que
sonhavas… a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha… sonhavas e
eu aqui, nada mais te pedia… nada mais desejava… queria apenas
ser o teu sonho…”
terça-feira, 23 de junho de 2015
ESTRELAS
“… e
as estrelas chegaram e trouxeram-me o suave sorriso dos teus lábios…
e vinha com a claridade prateada da lua que se escondia da tua
beleza… e as estrelas me trouxeram a doçura do teu olhar em arcos
de luz, essa claridade da tua alma que tanto me seduz… e vinha com
o brilho da tua pele macia como a seda que qualquer bicho-da-seda
teceria… e as estrelas chegaram e me presentearam com o calor doce
do teu toque… sentir-te é uma benção que traz a paz ao deitar
meu enlevo no teu regaço e, sem espaço, vinha o luar espreitar…
sorria ele ao ver-te chegar e sabia ele da minha alegria em te
receber, plena de luz e de amor que qualquer deus sabia antever…
abristes os braços e te deste em sintonia com a veste que não
trazias… não precisavas pois tu mesma eras todos os véus que
cobrem as estrelas de todos os céus… sorrias nessa entrega plena
de dádiva que eu tanto queria… estavas ali, cheia de ti, pronta
para mim… porque as estrelas te trouxeram num mar de pétalas de
uma doce rosa em qualquer jardim… o meu…”
segunda-feira, 22 de junho de 2015
SAUDADES
“…Tenho
saudades tuas… Queria ter-te aqui comigo, a meu lado, de mãos
dadas ou de olhos nos olhos… Cingir-te a cintura e apertar-te
contra mim e sentir teu corpo… Desejar o teu desejo… Ouvir teu
coração bater com a minha face sobre o teu peito… Beijar-te a
boca e saber-me dentro de ti… Sentir-me mais uma vez como as muitas
que senti… Tenho saudades tuas… Chamar pelo teu nome… Ouvir a
minha voz pronunciar esse som e saber-me respondido com o teu sorrir…
Estar onde estás e saber-me contigo, aberto de mim para te receber
em plenitude… Entrar no teu ser e saber-me lá residente, não
ontem nem hoje mas, sempre… Perder-me no teu labirinto e jamais
encontrar a saída… viver os caminhos e as esquinas que se
cruzassem à nossa frente e deixar de conhecer o tempo que nos cerca…
olvidar a dor da ausência do teu doce amar… Tenho saudades tuas…”
sábado, 20 de junho de 2015
A CAIXINHA DE MARFIM
“…eram
extremamente apelativos… estavam ali à minha disposição… em
cima da mesinha de cabeceira… era uma caixinha escura que ela usava
para ter à mão os comprimidos que a faziam dormir… nunca liguei
qualquer importância ao valor daquela caixinha e, no entanto, ela
continha o passaporte para uma viagem, uma sem retorno… nunca
houvera pensado nisso, exceto naquela noite… uma noite em que ela
não estava ali deitada comigo (nunca mais estaria)… uma noite em
que acabara de chegar de mais um bar e depois de ter ingerido um bom
pedaço de álcool para me aquecer a alma tão fria e tão dormente
que já nem a sentia… também, para que queria eu uma alma?… que
é que ela me dá ou me faz?… a caixinha preta continuava ali…
quantos comprimidos teria ela deixado desde a última vez que a
encheu depois de os tirar da embalagem de marca do medicamento?… a
minha mão direita estendeu-se para aquela caixinha preta tão
apelativa como tão consoladora pelo imaginário que já me estava a
provocar… não custaria nada e dormiria para sempre… tão bom…
era disso que eu estava a precisar ou seria de mais um pouco de gin?…
mas para tomar os comprimidos eu precisava de beber alguma coisa e
essa coisa estava também ali à mão… debaixo da cama, talvez
também deitada no chão por cima do tapete… teria ainda algum
líquido?… o suficiente para engolir os comprimidos?… já não
tinha forças para me levantar e ir buscar outra garrafa… a
caixinha preta continuava ali e a minha mão já estava em cima dela…
senti aquela textura (penso que era marfim) sob os meus trémulos
dedos mas senti-a fria e um arrepio percorreu-me a coluna… ou teria
sido outro tipo de arrepio?… não sei quanto tempo estive com
aquela caixinha na mão… não sei quanto tempo demorei a tomar uma
decisão… não sei quanto tempo a olhei com um turvo olhar… não
sei porque razão não a segurei… dei por mim a olhar para ela sem
saber para que é que ela servia e naquele momento apenas me apeteceu
dormir… tão perto do derradeiro sono… tão desejado… ali tão
à mão… reparei então que estava deitado sobre o lugar dela com o
braço direito estendido para a mesinha de cabeceira segurando a
caixinha preta que continha o passaporte para a derradeira viagem…
tantas vezes assim estivemos… tantas vezes senti o seu calor, o seu
respirar, o seu arfar… tantas vezes assim ficamos depois de
fazermos amor… e, neste estúpido momento, repetia aquela posição
estendendo a minha mão para uma viagem… não consegui conter o
choro… não consegui aguentar as lágrimas… não consegui segurar
a caixinha preta… não consegui partir… restou-me a certeza que
no dia seguinte teria mais uma noite de frio…”
sexta-feira, 19 de junho de 2015
SERENO
“...
a calma tinha-se aproximado de mim como não me conhecesse... eu já
a conhecia há muito pese embora os grandes momentos em que não a
via ou não me encontrava com ela... porém, naquela vez, ela fez de
conta que não sabia quem eu era... aproximou-se mansamente e como
quem não quer a coisa, saudou-me ao de leve com um leve acenar pela
passagem, pelo encontro... não lhe liguei demasiada importância mas
educadamente correspondi ao seu aceno e sorri-lhe... foi nesse
momento que ela olhou para mim e, de chofre, me perguntou: - Porque
sorris?... Naquele instante não encontrei resposta mas uns segundos
após, saiu-me uma frase lenta e suave: - Porque não haveria de
sorrir?... Acho estranho, disse ela: Estás sempre preocupado, cheio
de problemas, a tua cabeça é um vulcão, a tua alma desespera, o
teu coração bate e os teus olhos não choram... Pois, respondi eu,
eu sei mas por vezes caio em mim e entendo que de nada me vale o
lamento; por certo que estou errado quando desfaleço e sentado ou
deitado me concentro nas agruras da vida; depois penso que a vida é
apenas aquilo que dela fazemos, aquilo que dela queremos, aquilo que
dela podemos tirar... a vida nada nos dá excepto ela mesma, ou seja,
ela se nos entrega numa única vez e após instalada em nós, somos
nós mesmos que a gerimos... temos esse poder, o poder de moldar os
dias, as horas, os minutos e até mesmo os segundos dos nossos
momentos aqui e agora, ontem e, quem sabe senão ela, também
amanhã... somos nós que decidimos enfrentar ou não o momento que
se nos depara, seja ele bom ou mau... é apenas uma questão de
escolha... mas tu não eras assim, disse-me ela, a calma... sim, eu
sei... na verdade, a vida foi tão diversa e tão cheia de coisas e
coisas que houve vezes em que não te consegui enfrentar ou mesmo
aceitar e desesperei... porém, houve também momentos em que soube
que me podias ajudar... por isso te sorri agora... sei que me podes
inundar e tornar-me pleno de mim mesmo e conceder-me ainda mais a
capacidade de me dar ainda mais do que já tentei... sei que me
ajudarás... porque me trazes a sabedoria, a sensatez, a alegria, a
ternura de me saber feliz ao sentir que amo, que o caminho que
percorro é o único que me pode serenar, o único que me pode
pacificar, a caminhada plena para amar... e, com amor, se ama e com
amor se preenche a nossa vida, mesmo para além da morte... por isso,
hoje, te sorrio por saber o quanto amo quem amo, quem me dá a
plenitude da serenidade, num amar terno e seguro, forte e puro, real
que de tão real, a ti o juro...”
quinta-feira, 18 de junho de 2015
ACENAR
"...
o tempo passa demasiadamente depressa... quando damos pelo facto,
seja ele qual for, o tempo esvaiu-se e quase não o vimos passar...
quando não o vemos passar porque ele foi usado em positiva vivência,
é óptimo recordar esses momentos que não vimos passar porque o
tempo estava a ser ganho por algo bom que recordaremos com prazer...
porém o tempo voa e quando damos por ele, ele já passou e já são
horas de dizer um novo adeus, um até breve, um até depois... fica o
sabor de tudo o que se viveu... fica a saudade desses momentos...
fica a ânsia de que eles voltem depressa mais uma vez... e quando o
tempo de viver esses doces momentos acaba, fica em nós a presença
do outro, o cheiro, o sabor, o tacto, o som e a imagem que fixamos
com ternura para, no mínimo, a levarmos dentro de nós... até ao
próximo encontro... no entretanto, fica o aceno, o olhar para trás,
o dizer aquele adeus com a mão estendida e o rosto, apesar de tudo,
sereno e com um sorriso nos lábios... o acenar até que a esquina
surge e o passo continua calmo no percorrer daquela rua..."
quarta-feira, 17 de junho de 2015
ENSAIO SOBRE A SOLIDÃO
“…depressa
me canso de mim… olho à minha volta e só vejo recordações…
uma terna claridade invade o meu quarto e me rodeia de mansinho… já
reparei várias vezes: vem sempre acompanhada do silêncio!… nunca
soube o porquê de tal evento… é uma luz difusa, lenta, como que
surgindo a medo e com ela, um opaco silêncio… algo que nada traz a
não ser paz… mas vir com ela já é bom… e é nesses
momentos que me sinto só… e sabem porquê?… porque não tenho
com quem partilhar esse momento!… algo que sempre desejei fazer um
dia na minha vida: partilhar a minha solidão… dizer a alguém:
“…Vês?… Estás a ouvir?… A minha solidão está aqui, é
isto que vive aqui comigo… Entendes?…”… mas nunca consegui e
nunca o consegui porque nos momentos em que a solidão me visita eu
nunca estou acompanhado… engano, estar acompanhado estou mas apenas
de mim mesmo e dessa luz e desse silêncio… já somos três…
estendo-me então no leito dessa luz e deixo-me levar pelo barulho do
silêncio que me invade… nunca é tarde para experimentar novas
sensações, só que esta é já demasiadamente minha conhecida e
então apenas nos olhamos e nos aceitamos mutuamente… nada mais
fazemos senão partilhar aquele momento, uma partilha a três numa
solidão solitária de um só… estendido nela e com o silêncio
deitado a meu lado, olhamos o tecto que lentamente se separa de nós
em tons de cinzentos cada vez mais escuros… passo os braços pelo
silêncio e aperto-o de encontro ao meu peito… sinto o seu respirar
lento e compassado… é um som simpático, eu sei, mas ao mesmo
tempo ousado na medida em que invade o som do bater do meu coração…
e o silêncio deixa de ser silêncio para ser um baque surdo ritmado
aqui, ao meu lado, deitado… no entanto, continuo abraçado a ele e
ele sente-se bem porque acarinhado… é um abraço puro mas forte…
ingénuo mas apaixonado… é apenas um abraço de silêncio
compartilhado num leito de claridade a escurecer em lentos tons que
tem o anoitecer… porém, já quando o tecto se separa de nós e nos
abandona entregues que ficámos à luz das trevas que entretanto nos
envolvem, o silêncio se aperta contra mim e me possui… penetra-me
fundo e a respiração torna-se ofegante, sufocante… o que até
então era um prazer compartilhado passa a ser dor e algo que
corrompe… penetra-me cada vez mais fundo e a dor aumenta… o bater
e o som do meu coração ultrapassa o silêncio que entretanto se
esvai num orgasmo de sons delirantes de espasmos gigantes que se
avolumam dentro de mim… o tecto já não existe, a obscuridade
ainda persiste com mais intensidade… é um estar sem vida, sem
morte e sem idade… apenas habita em mim numa eterna cumplicidade…
respiro o espaço que me rodeia… e a escuridão cai sobre tudo e me
envolve como uma teia… já tenho mais uma companhia… o doce sono
vem de mansinho amparar meu corpo e cobre-o com carinho… adormeço
lento, extenuado de tanta amargura, numa vã procura do próximo
amanhecer que de novo me vai trazer o fim de tarde, neste terno ciclo
de amor e ódio em que espero pela eternidade…”
terça-feira, 16 de junho de 2015
REGAÇO
"...
deito a cabeça no teu regaço... olho-te a face serena... e teus
lábios sorriem... tuas mãos se envolvem nos meus cabelos e a
massagem leva-me ao sonho... fecho os olhos e deixo-me vogar no teu
corpo... dentro de ti... à tua volta... mesmo sem te tocar te
sinto... tuas mãos tocam o meu ser como se nos meus lábios
estivesse todo eu, como se a minha boca fosse todo o meu corpo...
teus dedos leves e suaves me transportam, nesse toque, para lá de
mim mesmo e me deixo ficar por momentos apenas nesse espaço, nesse
limbo, nesse suave sentir de seda e com sede de um beijo... é esse
beijo que acontece a seguir... é esse toque que me faz emergir de
mim para imergir-me em ti... apenas um leve sabor a pétala duma
qualquer flor... apenas um leve sabor e tudo o que nos rodeia a
seguir é tão-somente o amor..."
segunda-feira, 15 de junho de 2015
PRISIONEIROS
“…há
homens que vivem para amar… e então, amam tudo e todos…
despertam o amor em muitos seres mas nunca irão conseguir amar uma
só pessoa… esse homem tem em si o desejo de viver num pleno estado
de graça que o “Amar” lhe proporciona… esse homem que tanto
ama, que tanto vive para amar… é um ser solitário… porque
sofre… porque sempre insatisfeito… porque no meio de tanto e
tanto amar ele não consegue “sossegar” num único amor… passa
a vida a lutar pelo amor, passa a vida na constante procura do amor…
percorre todos os caminhos e nunca encontra o seu “graal”… vive
num eterno desejo de paz, de descanso do guerreiro… mas jamais o
encontrará… é um ser insatisfeito, porque o Amor que espalha á
sua volta é um círculo que o aprisiona e ele torna-se prisioneiro
dessa procura…”
domingo, 14 de junho de 2015
SINÓNIMO
“...
és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de
beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo
de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és
sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu
coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em
sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor
me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a
saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em
meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos
com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando
sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir
que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a
amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a
qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído
que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor
busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz
ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o
caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos
corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal,
o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o
dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos
envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno
tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto
minha, sei que me sentes teu...”
sábado, 13 de junho de 2015
EXPOSIÇÃO
“…queria
expor a totalidade do meu ser no teu corpo... deitar-me nele e
descansar… esperar a manhã seguinte sem alterar a forma de sentir…
vibrar apenas com o facto de me saber em ti pousado ao de leve, de
mansinho, como se lá não estivesse… delirar com os teus
movimentos e sentir o meu corpo mover-se ao som dos teus… olhar-te
os seios e sorrir nos teus mamilos… ver teu ventre quieto, dolente,
ali à minha frente… tua sedosa pele em cheiros de jasmim ou de
rosa pétala… deixar-me levar pelo teu sonho e pelo teu respirar…
ondular… marear… vogar… fluir, ser e estar… e quando do sono
o teu ser acordar eu olhar teus olhos matinais e neles me afogar…
suster a respiração e desfalecer nos teus braços…”
sexta-feira, 12 de junho de 2015
MINHA ALMA
"...me
haverás de perseguir por toda a Eternidade e em mim habitar como uma
segunda Entidade, uma alma ou o que queiras ser... serás sempre uma
presença a conter a minha essência, mesmo presente ou mesmo na
ausência... serás o meu guia, o meu âmago, o Alpha perfeito no meu
jeito de amar, de me ser e de me estar, aqui ou ali ou aí, no teu
cerne, no meu peito, no corpo do meu amor, no doce beijar da pele que
te cobre na acetinada presença do que amo..."
quinta-feira, 11 de junho de 2015
CARTA DE AMOR
“…tens
razão, meu amor: nunca te escrevi uma carta de amor… interessante
notar que mesmo num tom frio dito assim, sinto a dureza do saber que
algo tão simples ainda não foi feito… talvez não tenha jeito…
ou será apenas preconceito?... mas, na verdade, nunca te escrevi uma
carta de amor, daquelas que levam as mágoas e as saudades em
torrentes turvas de rios alterosos em direcção a um mar onde o
horizonte se confunde com as cores de majestosos tons… são cartas
de amor em que as palavras se confundem com os sentimentos que
queremos transmitir e não os sabemos… são cartas de amor em que
as palavras se misturam numa amálgama de tonalidades que não duram…
são cartas de amor que perduram no tempo sem um lamento mas onde o
sentir de um breve sentimento mais não é do que o dizer da palavra
em dado momento… são cartas de amor que não escapam ao
estereotipo dos sons que se ouvem na escrita e se escrevem com a voz…
o som que se debate dentro de nós sem sabermos que já não temos o
poder de gritar a sós… cartas de amor dizendo o que não é
preciso dizer… cartas de amor falando de coisas que sabemos sentir,
possuir, ver… cartas de amor com palavras que transmitem o toque, o
cheiro, a visão, o sabor e a audição dos nossos corpos em fusão…
na verdade, meu amor, nunca te escrevi uma carta de amor… uma carta
que repetisse o que desde o início sempre te disse: que te amo…
para quê então, meu bem, escrever o que já se sabe, o que já se
tem?... mas um dia vou tentar escrever-te uma carta de amor, uma
carta que te leve as palavras que me preenchem e se derramem sobre ti
num sabor a tudo o que qualquer homem e mulher podem querer: que se
amem a valer sem preciso ter de escrever uma carta de amor, perfeita,
bela, cheia de luz e de cor…”
terça-feira, 9 de junho de 2015
O DOCE ENVELHECIMENTO
"… recuo
algumas décadas (intensamente vividas) do historial da minha vida e
lembro que nada me fazia pensar, naquelas alturas, do momento em que
viesse a “absorver” a inevitabilidade do envelhecimento… são
alturas da nossa vida em que nunca se pensa nos anos que passarão
(muito rapidamente) a voar e, um dia, sem notarmos a não ser duma
forma muito patética que
já passamos dos 50… mas, maravilha, ainda aí a nossa postura é
de alegria: atingir a “meta” dos 50 é algo para festejar e a
festa que a família e os amigos nos fazem é algo que jamais
esqueceremos (relembro a minha algures nos finais de 1995)… depois,
outra vez, muito rapidamente, de novo, atinge-se a barreira dos 60…
nessa altura somos levados a pensar nos familiares que,
anteriormente, chegaram a esse marco… depois, bem depois é um
ápice e o dia a dia é tão veloz que as 24 horas parecem minutos a
escapulirem por entre os dedos…
… e sorrio… sorrio
porque por mais estranho que pareça, sinto-me feliz… sinto que já
vivi tempos fantásticos… lembro-os com saudade é certo mas com a
alegria de ter vivido cada momento, cada minuto como se fosse uma
hora e o tempo não acabava e o dia era imenso, enorme, longo,
perfeito e talvez eterno…
… estou, pois, numa altura da vida em que os dias passam com uma rapidez estranha mas, ao mesmo tempo, aceito esse facto como algo que assim tem de ser… e sorrio de novo por saber que estar aqui e agora foi o resultado do vivido nos momentos antes… e sinto uma serenidade estranha, algo tão diferente de todo o stress que foi então a constante absoluta dos dias que vivi e olho para o dia de amanhã como a meta que tenho de alcançar com a mesma calma com que alcancei o dia de hoje…
… viver, pois, o dia a dia num suave e doce abraço com o tempo que me é concedido, é a razão para olhar para a “frente” sem medos, sem receios, sem preconceitos…
… aos mais novos, aos meus filhos, aos meus netos, a toda a gente que está vivendo a vida que eu já vivi apenas digo que vivam todos os momentos com intensidade, que agarrem os minutos fazendo deles eternas horas de alegria… que não pensem em coisas tristes porque viver é uma bênção e como tal deve ser absorvida…
… espero viver ainda muitos anos e em cada dia que viver amanhã e nos seguintes eu sinta que foi mais um minuto que tive para absorver tudo o que o Universo me deu, me dá e me dará… e saber que afinal de contas o envelhecer é suave e doce como um gelado que nos escorre pela garganta e nos dá um saboroso, doce e suave prazer… “
… estou, pois, numa altura da vida em que os dias passam com uma rapidez estranha mas, ao mesmo tempo, aceito esse facto como algo que assim tem de ser… e sorrio de novo por saber que estar aqui e agora foi o resultado do vivido nos momentos antes… e sinto uma serenidade estranha, algo tão diferente de todo o stress que foi então a constante absoluta dos dias que vivi e olho para o dia de amanhã como a meta que tenho de alcançar com a mesma calma com que alcancei o dia de hoje…
… viver, pois, o dia a dia num suave e doce abraço com o tempo que me é concedido, é a razão para olhar para a “frente” sem medos, sem receios, sem preconceitos…
… aos mais novos, aos meus filhos, aos meus netos, a toda a gente que está vivendo a vida que eu já vivi apenas digo que vivam todos os momentos com intensidade, que agarrem os minutos fazendo deles eternas horas de alegria… que não pensem em coisas tristes porque viver é uma bênção e como tal deve ser absorvida…
… espero viver ainda muitos anos e em cada dia que viver amanhã e nos seguintes eu sinta que foi mais um minuto que tive para absorver tudo o que o Universo me deu, me dá e me dará… e saber que afinal de contas o envelhecer é suave e doce como um gelado que nos escorre pela garganta e nos dá um saboroso, doce e suave prazer… “
segunda-feira, 8 de junho de 2015
A ETERNA PROCURA
“… avanço
na direcção certa ainda que não saiba o caminho, mas avanço…
não me deixo ficar a olhar para a vereda que já percorri… avanço
em frente, passo a passo, com cuidado mas com força e determinação…
não são os meus pés que caminham mas a minha alma, o meu sabor de
caminhar e o meu saber de que o estou a fazer… avanço porque
quero… porque espero… porque sei que vou encontrar… o que quer
que seja ou qualquer que seja o meu destino, a minha meta, a minha
linha de chegada (a linha de partida já se esvaiu da minha memória),
eu sei que a recompensa está lá… seja ela minúscula ou enorme…
mas não é o seu tamanho que me move… mas sim o ter de ser… o
querer, o amor, o desejo de amar… o caminho mais nobre, mais
salutar do ser humano: amar!… vou sem olhar para trás… afasto os
escombros dos prédios destruídos da guerra que se travou dentro e
fora de mim ao longo dos anos e que foram ficando ali à minha frente
porque nada pode ficar para trás… não devemos olhar para trás,
não, mas tudo o que passou vai connosco na nossa caminhada… é
preciso, pois, afastar o entulho, o pó, as pedras aguçadas que nos
cortam o ser e continuar a correr… a percorrer… a olhar em
frente, erectos, de cabeça erguida, de olhar brilhante e não
turvado por uma ou outra lágrima que teime em cair… apenas tenho
de ir… e vou… avanço sem medos, sem receio do que vou encontrar…
o que lá estiver será o que calhar, o que tiver de ser… o que lá
estiver, no final da caminhada será apenas o meu tudo ou o meu nada…
mas o que quer que seja, seja tudo ou seja o nada, o que quer que
seja, será meu… meu para abraçar, para abarcar, para enlaçar,
para gritar ao mundo que por mais desconhecido que seja o fim do
caminho, devemos avançar, com ternura, com amor, com garra, com dor
se preciso for, com todo o afinco, com todas as nossas forças na
procura do nosso “graal”, na busca do sentido da nossa vida, para
que no acto final, qualquer que ele seja, eu saiba que fiz tudo o que
me foi possível para saber que valeu a pena, que nada perdi, que fui
quem fui, que sou quem sou, que serei quem tiver de ser, no aceitar
único de que o percurso certo e correcto é apenas saber e querer
amar…”
sábado, 6 de junho de 2015
INCONDICIONAL
“...a
carta que escrevo aqui e agora é o que "eu" sinto e penso
da vida e não "serve" para todos... não há respostas
definitivas e únicas para todos nós... vivemos num mundo de
desafectos em vez de vivermos num de afectos... vivemos num mundo
onde o sentirmo-nos bem com a nossa própria identidade é já tão
dificil que
usamos estas identidades "falsas" para podermos falar e ouvir... já nos falta a "coragem" de enfrentarmos os outros, de olharmos os olhos uns dos outros e dizermos a quem estiver na nossa frente o que sentimos, o que pensamos, o que queremos, o que temos, o que podemos ser e, principalmente, o que podemos dar... a vida já vai longa para mim e já vivi muito e quase tudo o que um homem pode viver... passei de tudo um pouco e os anos foram-me tornando "duro" e um pouco "sóbrio" perante as bebedeiras da vida... a vida não é fácil e tudo o que a vida nos dá é pouco porque queremos sempre mais e melhor... passamos a vida a lutar por um lugar ao sol e esquecemos o quanto bom é refrescar-mo-nos numa sombra... passamos o tempo a "querer", passamos o tempo a "desejar", passamos o tempo a "ter", a "possuir", a "querer ter ainda mais"... esquece-mo-nos de dar!... e, um dia, ficamos de mãos vazias e ficamos sem nada e lamentamos termos ficado sem tudo o que havíamos tido... que desgraça enorme... perdi tudo, inclusive o amor!... tudo o que tínhamos se foi... e passamos a ser uns eternos infelizes!... errado!... nunca tivemos nada!... porque não somos donos de nada!... nada temos!... nada possuímos!... nada é nosso!... só dando é possível ser feliz!... desejar tudo de bom para o outro!... dar-mo-nos aos outros de todas as formas, de todas as maneiras... não pretender sermos amados... amar somente... a felicidade está em amar, tão somente em amar e sentir que amar é estar feliz consigo mesmo... amar sem posse nem destino... amar incondicionalmente... não chorar sobretudo porque é preferível sorrir e mesmo que por dentro a alma se parta aos bocadinhos que nos reste um sorriso nos lábios para dar aos outros... foi isso que aprendi ao fim de muitos anos... não fui, não sou nem quero ser dono do que quer que seja... quero olhar e desejar que todos estejam melhor do que eu... escolho o melhor para o meu semelhante... ao fazer isto faço-o com alegria, com gosto e sou feliz!... é esta a resposta: não há caminhos para a felicidade... esta, a felicidade em si mesma, é o verdadeiro caminho... não interessa que estradas havemos de percorrer, o que interessa é caminhar com a certeza de que "escolher" o melhor para o outro é a base do meu bem estar... sentir que com essa "escolha" eu estou a caminhar e não à procura do caminho... estas palavras não "servem" para todos, eu sei... mas não sei outras... tudo o que possais ler nos meus escritos é uma mistura de credulidade e de incredulidade... é uma mistura de fé e de raiva... é uma mistura de sim e de não... pela simples razão que precisamos dessa "balança" para o nosso equilíbrio... mas, o cerne da questão está lá, nas entrelinhas e estas são as que acabo de escrever... não sei se era "isto" que querias ouvir, se era esta a "mão" que precisavas...acredita que é a única que tenho e dei-te o que tinha: tempo, palavras e um desejo firme de felicidade para ti, meu irmão!... “
usamos estas identidades "falsas" para podermos falar e ouvir... já nos falta a "coragem" de enfrentarmos os outros, de olharmos os olhos uns dos outros e dizermos a quem estiver na nossa frente o que sentimos, o que pensamos, o que queremos, o que temos, o que podemos ser e, principalmente, o que podemos dar... a vida já vai longa para mim e já vivi muito e quase tudo o que um homem pode viver... passei de tudo um pouco e os anos foram-me tornando "duro" e um pouco "sóbrio" perante as bebedeiras da vida... a vida não é fácil e tudo o que a vida nos dá é pouco porque queremos sempre mais e melhor... passamos a vida a lutar por um lugar ao sol e esquecemos o quanto bom é refrescar-mo-nos numa sombra... passamos o tempo a "querer", passamos o tempo a "desejar", passamos o tempo a "ter", a "possuir", a "querer ter ainda mais"... esquece-mo-nos de dar!... e, um dia, ficamos de mãos vazias e ficamos sem nada e lamentamos termos ficado sem tudo o que havíamos tido... que desgraça enorme... perdi tudo, inclusive o amor!... tudo o que tínhamos se foi... e passamos a ser uns eternos infelizes!... errado!... nunca tivemos nada!... porque não somos donos de nada!... nada temos!... nada possuímos!... nada é nosso!... só dando é possível ser feliz!... desejar tudo de bom para o outro!... dar-mo-nos aos outros de todas as formas, de todas as maneiras... não pretender sermos amados... amar somente... a felicidade está em amar, tão somente em amar e sentir que amar é estar feliz consigo mesmo... amar sem posse nem destino... amar incondicionalmente... não chorar sobretudo porque é preferível sorrir e mesmo que por dentro a alma se parta aos bocadinhos que nos reste um sorriso nos lábios para dar aos outros... foi isso que aprendi ao fim de muitos anos... não fui, não sou nem quero ser dono do que quer que seja... quero olhar e desejar que todos estejam melhor do que eu... escolho o melhor para o meu semelhante... ao fazer isto faço-o com alegria, com gosto e sou feliz!... é esta a resposta: não há caminhos para a felicidade... esta, a felicidade em si mesma, é o verdadeiro caminho... não interessa que estradas havemos de percorrer, o que interessa é caminhar com a certeza de que "escolher" o melhor para o outro é a base do meu bem estar... sentir que com essa "escolha" eu estou a caminhar e não à procura do caminho... estas palavras não "servem" para todos, eu sei... mas não sei outras... tudo o que possais ler nos meus escritos é uma mistura de credulidade e de incredulidade... é uma mistura de fé e de raiva... é uma mistura de sim e de não... pela simples razão que precisamos dessa "balança" para o nosso equilíbrio... mas, o cerne da questão está lá, nas entrelinhas e estas são as que acabo de escrever... não sei se era "isto" que querias ouvir, se era esta a "mão" que precisavas...acredita que é a única que tenho e dei-te o que tinha: tempo, palavras e um desejo firme de felicidade para ti, meu irmão!... “
sexta-feira, 5 de junho de 2015
APTIDÃO
“… Existe
uma enorme dificuldade em se pronunciar a palavra “Amo-te”… na
verdade, a qualquer um de nós, dizer à pessoa de quem gostamos que
a amamos é um verdadeiro desafio… e, muitas vezes, engole-se em
seco e não conseguimos dizer e ficamos com uma vontade enorme de
bater em nós mesmos por não sermos capazes de fazer uma coisa tão
simples como dizer uma palavra tão serena… no entanto, é o
nossosubconsciente que tem “medo” de a pronunciar porque ela
encerra uma enorme carga de sentimentos e de responsabilidade… há,
no entanto, quem a use de tal forma simples que a torna tão usual e
normal pela leviandade com que a pronuncia… quando se diz a alguém:
“Amo-te”, não estamos a dizer: “Gosto de ti”… existe uma
enorme diferença, eu diria mesmo um abismo entre as duas formas…
gostar é demasiado fácil e muito egoísta, porque quem gosta de
algo é porque esse algo a satisfaz… amar não é tirar satisfação
do outro, amar é entrega, é dádiva, é querer que o outro tire de
nós… quando souberes que és capaz de dar a vida por alguém, por
exemplo, podes dizer com propriedade que amas esse alguém por quem
estás disposto a dar a vida se preciso for… quando estiveres
convicto que amar é dares-te e não obteres, então podes dizer ao
outro: “Amo-te”… não pronuncies nunca a palavra que te
compromete, que te “obriga” a um compromisso para com o outro,
mesmo que seja por pouco tempo… amar é tão-somente e apenas uma
entrega absoluta e total de alguém a outro alguém… se não
estiveres certo de que estás pronto para essa entrega então mais
vale não dizeres que amas porque, na verdade, não amas, apenas
gostas… é, portanto, preferível abafar a palavra do que a dizer
levianamente… daí que, ouvir alguém dizer-nos: “Amo-te” é
ficar com a certeza de que somos “donos” de quem o afirma… é
ficar com a certeza de que, na verdade, podemos “tirar” tudo
dessa pessoa porque ficamos a saber que ela se nos dá inteira, de
corpo, alma e coração… mais vale não dizer que amas alguém se
para ti essa forma de amar não for sinónimo de dádiva… e não
tenhas vergonha de não seres capaz de amar porque amar é um estado
de alma e não um estado físico… para amares, precisas de te amar
a ti primeiro… quando conseguires amar-te a ti mesmo, então
saberás que estás apto a amar o outro…”
quinta-feira, 4 de junho de 2015
A MAGIA DA ESCRITA
"...
coloco aspas e reticências... um hábito já muito antigo quando
quero viajar pelas palavras nem que seja para vos desejar uma boa
semana de trabalho... tento, dessa forma, pairar sobre elas na
procura das letras que formem palavras... pairo sobre as vogais e as
consoantes e demoro-me na procura das frases, das orações, dos
pronomes, dos adjectivos, dos verbos e das verbalizações... concebo
ainda a existência das vírgulas, dos pontos, de exclamações e por
vezes coloco também uma ou outra interrogação... passo ainda pelos
advérbios, pelas conjunções, pelos acentos circunflexos, agudos e
em algumas vezes os graves... utilizo ainda as palavras que contenham
hífen e quase nunca as que possuem tremas... dou uma olhadela pela
possível utilização dos números ou dos algarismos, mas
raramente... aproximo-me ainda dos galicismos ou de outras
proveniências e tento, por ventura, fazer algum sentido com toda
esta amálgama de fonemas, ditongos ou quem sabe ainda se também
pelas amorfas e pelas átonas... o que quer que elas sejam, elas
ficam aqui impressas num exercício renovado de prazer em as escrever
e depois as ler... depois desta viagem, pouso a escrita com mais umas
reticências e fecho a porta com mais umas aspas..."
quarta-feira, 3 de junho de 2015
SABER
“...
não penses que sabes tudo ou que sabes que podes tudo saber... nada
se consegue saber apenas com a aprendizagem... é preciso buscar, é
preciso viver, é preciso sentir, ser e estar... nada se consegue
saber apenas com o olhar... é preciso ouvir, tocar, cheirar… usa
todos os meios ao teu alcance para que um lampejo de sabedoria surja
perante ti, mesmo os meios que não possuis, ou seja, usando a
sabedoria dos outros, daqueles que têm algo para te dizer, para te
contar, para te oferecer... depois, lança esse conhecimento no teu
ser... cozinha-o com todos os ingredientes que possas arranjar e
tenta um lume brando usando o teu instinto... o produto final será
teu e de mais ninguém... foste tu que o obtiveste com o teu
trabalho, com a tua busca, com o teu empenho e não só com o que te
deram... depois, prova esse produto e digere-o com prudência e com
lentidão... porém, sempre que possas, usa um pouco de loucura,
dá-lhe um toque final, impõe-lhe a tua marca e oferece-o a quem o
procura... não o retenhas pois de nada te serve guardado no sótão
da tua memória... areja-o e reparte-o com os outros... a seguir,
procura novo saber... e repete o processo...”
terça-feira, 2 de junho de 2015
TRAZIAS
“...trazias
o perfume de uma flor e o sabor de uma iguaria... trazias tudo o que
eu desejava, o que eu queria... trazias contigo a doçura do teu
olhar e a leveza do teu toque para o meu corpo amaciar... trazias o
sol e o brilho das estrelas... trazias o sorriso estampado na pele e
o cheiro da maresia quando se espalha na areia... trazias tudo o que
um homem anseia... trazias o amor dentro de ti, o amor que se dá e
não se regateia, o amor que sempre perdura mesmo quando partes...
trazias a esperança no rosto e os lábios entreabertos prontos para
o beijo, para o doce toque em que todos os sabores se transformam em
mel... de braços abertos meu ser te aguardava, ansioso... certo da
tua vinda, da tua chegada... e o abraço se deu num enlaçar de paz e
de ternura... e todo o ser se deu e se recebeu e as mãos se
entrelaçaram... e num serpentear de passos arrastados porque leves,
os caminhos nos levaram... e o sabor a tudo num leito se
aconchegou... e o amor que veio e o amor que esperou, por ali,
naqueles instantes infinitos, se quedou e a si mesmos se entregaram
na paz que só os que amam sabem sentir...”
segunda-feira, 1 de junho de 2015
PERDURAR
"...
e o amor não se esgota nos momentos em que os amantes se
encontram... o amor perdura para além deles, dos momentos e dos
próprios amantes... o amor fica em cada um como uma marca no tempo
que vai para lá do tempo em que foi... o amor vai com cada um e
reage ao menor sinal de memória... reactiva-se a si próprio quando
já lá não está, naquele momento em que se ama... eleva-se para
além da sua meta e tenta chegar ao momento seguinte, momento esse
que não se sabe se vai existir mas que se deseja e do qual se sabe
apenas que será um novo momento... o amor não se esgota no momento
em que os corpos se esgotam e descansam... o amor vai além desse
esvair porque se não for nunca será amor... o amor não se esgota
no peito de cada um porque continua na memória de ambos... o amor é
isso, é saber que não foi só e apenas aquele momento... o amor
prolonga-se a si próprio para além de si mesmo e daqueles que o
vivem... o amor está para lá do próprio amor..."
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