“… porque
te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?… para
te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?…
porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz
que te cega?… para não olhares, para não veres o que sempre
desejaste ver?… porque me dizes que sim quando do teu peito sai um
gritante não?… para não teres de balbuciar um talvez?…porque
pensas que pensas o que não pensas?… para pensares no que eu
penso que tu pensas?… não, o melhor é mesmo não pensares…
porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos
estão presas e cheias de dúvidas?… porque desejas libertação se
o que intimamente queres é estar quieto na bonomia do turbilhão?…
porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a
negrura da alma que te compõe o sentir?… porque não mentes se é
tão doce mentir?… porque não calcas a doçura do mel?… porque
não espezinhas a palavra calada?… porque não escreves o nada que
tens para dizer?… que te disse eu que tu já não soubesses?…
aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?… que
sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas
uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou
apenas de sabermos que nada sabemos?… porque te manténs sentada de
pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?…”
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