"...Em
cada relação que começa, a vida e o amor renascem. A paixão
coloca cada pessoa num ponto alto e excepcional, inevitável e
imperdível. Gostosamente. Mas as pessoas no seu melhor vêm depois,
às vezes muito depois, quando se chora e luta, quando se aceita e se
resiste, quando se constrói e quando se acredita. As verdadeiras
relações, os grandes amores são sempre virtuais. Não por serem
irreais, antes por serem imateriais, apesar de nos darem a ilusão
de um corpo, de um suporte material que tocamos e possuímos,
que acreditamos nosso, real, físico, material. Sentimos amor, quase
conseguimos tocar, agarrar essa sensação. Dizemos convictos que é
real. Olhamos o outro nos olhos e parece real, parece que o outro ali
está e nos ama mais que nós... Mas ver, sentir, tocar, são formas
de aceder ao amor, ascensores, facilitadores. Difícil mesmo é
planar. As relações são feitas de ar, planar. É no vento que se
ama. Talvez ser o próprio vento, e não a folha. Vê-se melhor o que
é amar quando é difícil amar, aceitar que é sempre mais do que
improvavelmente, um esforço, um desejo, um empenho pessoal em algo
que materialmente não existe, não é palpável nem mesmo se sente.
Nunca se ama realmente, a realidade do amor é nunca ser real.
Virtual. No dia a dia, corpo a corpo, sonha-se o amor, sonha-se um
amor virtual, que se não for virtual não é amor. Virtual porque
não depende da presença do outro, da aparência do outro, do
comportamento do outro. Um amar que perdura e se sustenta (Vento)
mesmo quando não vemos o outro. Amar é memória, antecipação e
crença profunda em memórias que hão-de vir. Virar a cara a quem
nos vira a cara, sabemos todos que é real, bem concrecto, mas não é
amar. Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar. É na
paciência, na persistência que se mede o amor. Amar é escolher
amar. Depende de quem ama e não de quem é amado. Depende do esforço
e disponibilidade de quem ama. Ninguém merece ser amado, porque
ninguém pode deixar de merecer ser amado. Não depende do mérito,
não depende do comportamento, não se vê nem se comprova. Posso ter
que silenciar, posso ter de partir... vai comigo o amor..."
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