…dentro de mim, a bater…
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sábado, 23 de maio de 2015
OUVINDO A NOITE
"…sentado
nesta cadeira de frente para o meu computador, numa mesa de madeira,
branca de sua cor, eu teclo nas letras paradas ao redor dos meus
dedos…preparo um texto, sem contexto, com uma textura qualquer,
talvez de amargura…não me preocupa a forma, nem as palavras que me
vão deslizar pelos dedos e destes para o monitor que, de vez em
quando, olho prevenindo um possível erro de escrita…não me
preocupa o tema, mesmo que sem lema não se torna um dilema neste
plural sistema de escrever prosa ou poema… trata-se de fazer
deslizar apenas o teclado pelos meus dedos e deixar sair as palavras
da minha mente numa constante busca da semente do significado para
aquilo que estou a fazer neste momento…e que faço eu, nesta hora,
aqui, sozinho e agora, batendo lento ou apressado nas teclas do meu
teclado…olho em frente e vejo um relógio que marca as horas lentas
que passam por mim e que marcam o tempo de viver a sorrir e a
amar…tudo e todos, sem olhar a quem…somente por amar… e que
espero eu obter desse amargor doce da alma que sofrendo não chora,
pelo contrário, vive e implora…e que espero eu senão encontrar o
caminho mais leve que me percorra o corpo como quente neve branca
como o luar que lá fora, no céu cinzento, teima em espreitar numa
noite fria de chuva que se aproxima do meu solitário estar… não
percorro os corredores do dia que passou nem choro as lágrimas que
retive dos acontecimentos que por mim passaram como uma brisa leve
pousando no lugar onde estou e me sinto pairar dentro do meu próprio
eu… procuro o sentido da vida que não encontro, numa procura
constante de mim mesmo, na luta insana da loucura que afasto de mim
nem que seja por um instante… e esse instante está chegando na
forma da noite que se aproxima, daquele estado de espírito que me
anima, pois a solidão resta a meu lado sem um mudo som nem qualquer
grito abafado de dor… e aqui fico… e aqui me quedo… esperando a
noite chegar para nela me agachar e aninhar… povoar nela os meus
sonhos de aqui me sentir e de aqui gostar de estar, neste lado do meu
mundo, sozinho, de dia ou de noite, a mim próprio mentindo…
mentindo-me em constante delírio duma busca que ufana luta me
provoca na mente que, pensando, não me escuta… e não me oiço a
pensar, nem quero sequer isso imaginar; oiço apenas a noite chegar e
a sua escuridão me abraçar, sem me possuir nem me ter, apenas me
rodeando de um leve prazer por ouvir os seus sons sobre mim verter…
e vertem-se esses sons em pancadas surdas de palavras mudas, livres e
desnudas de sentido ou de intenção… a noite traz paz ao meu
coração… ouvindo-a, fico sossegado e dou a mim próprio a minha
própria mão…segurando-me para não a possuir… para ficar aqui e
não ir… senti-la apenas num, pequeno que seja, luxuriante som…
ouvindo a noite, parto para o êxtase do meu ser, não pretendendo
ver, apenas ouvi-la…
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