"..queria
tanto ser o mar... para te sentir dentro de mim a nadar, esbracejando
vigorosa e forte em longas braçadas de vida e respiração
molhada... para sentir a tua pele húmida da minha maresia em total
contorno da tua existência e contínua persistência... para teus
lábios beijar com o sal ardente deste meu ser em contínuo movimento
que de doirado e sedento se move para dentro... para teu corpo
desejar e em ondas te tornar e à minha volta te jorrar quando na
cálida areia me espraiar... para sentir o calor intenso do sol me
banhar, aquecendo-me para que teu corpo não tremesse de frio ao em
mim penetrar... para teus seios ondular na massa informe do meu ser
que de moldável e suave permite a ternura em mim nascer... para
sentir tuas fortes pernas afastar-me e em desenhos lindos e
simétricos vencer a maleabilidade do meu ventre, para sempre... para
em gotículas me espalhar na tua vida em crescendo quando nua na
praia secas teu corpo ao vento num lânguido movimento... para te
chamar e te ver correr para mim, a saltar, como gazela fugindo num
monte de alguém que a quer caçar... para te chamar e te sentir
mergulhar de braços estendidos e de cabeça defendida, numa entrada
sulcando meus sentidos... para te aconchegar dentro de mim e com
ternura te abraçar num longo e eterno movimento de loucura... para
viver o instante do meu único momento insano na procura do ser que
me fizesse ver que mais não sou que o desejo de te ter...
...e
retomado do fim de tanto prazer, depositar-te na areia doce e
quedar-me duma vez por todas, ali, parado, para te ver!...
...como
eu queria ser o mar... “
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