"...
havia apenas um silêncio todo ele verde formado por árvores
frondosas, um cheiro a erva, a pinheiro, a eucalipto e o marulhar de
um riacho com o bater compassado da água nas pedras soltas do seu
leito... o silêncio também tinha asas... eram os pássaros que não
distingo as espécies, um milhafre e quem sabe talvez uma águia...
era um silêncio que também possuía a qualidade de ser tocado,
bastava para isso, abrir os braços e inspirar fundo a plenos pulmões
e sentir o seu abraço dentro do corpo beijando a alma... era um
silêncio feliz porque me fazia sorrir e cerrar os olhos para o
ouvir... um silêncio que também se via mesmo sem o olhar... o
silêncio puro, alvo, cristalino, todo ele formado de muitas coisas
que o tornavam único... tê-lo ali comigo era uma espécie de bênção
e senti-lo ainda me provocava mais prazer... deixei-me ficar, ali
nele deitado a usufruir a sua existência... de olhos fechados
sabia-me fazer parte dele... senti-o penetrar-me devagar com
suavidade e deixei-me embalar numa canção sem acordes mas que me
deixavam perceber o porquê de tudo... ali, uma só molécula e eu
fazia parte dela... um só mundo... um só ser... o sagrado estatuto
de viver..."
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