“…continuo
a acordar todas as noites… não há forma de o evitar… a tua
ausência incendeia-me os sentidos… a tua falta provoca-me esta
ânsia de te sentir presente… sofro neste sofrimento sofrido de dor
e solidão… já não sei quem sou… também não interessa…
lembras-te da última carta que te escrevi… sim, daquela em que
acordei às 3 e 15 da manhã?… Essa…sim, quando senti a tua falta
e me acariciei como se fosses tu que o estivesses a fazer… oh meu
amor, como sinto a tua falta!… Não, não sei que horas são… até
o relógio me tiraram deste sepulcro… olho pelas frinchas da janela
e vejo luar… não sei a quantos estamos… mas isso tem
importância?… Que valor terá o dia em que me encontro se não te
encontro num só momento?… Desespero neste tormento de sentir a tua
falta e não te sentir a presença… Como poderia sentir se tudo o
que sinto é dor?… Todos os nossos momentos me passam pela memória
e esta lembrança chora, chora como se fosse ela a minha própria
alma e eu não existisse… Aqui onde estou não me lembro do que
sou, só me lembro de ti e de todos os momentos em que estive contigo
e contigo vivi… Sim, agora não vivo, apenas recordo… Dizem que
recordar é viver… oh meu amor como pode ser viver se cada vez que
me lembro, sinto que estou a morrer… as tuas mãos estão aqui no
meu peito apertando-me os seios como tu tanto gostavas de fazer… a
tua boca na minha boca e a humidade da tua língua na minha língua…
o doce beijo nos meus mamilos e como as tuas mãos me penetravam com
doçura e força ao mesmo tempo… oh meu bem, como te amo tanto…
como te quero tanto… oh meu bem que lágrimas tão amargas estas
que broto a todo o momento… olha, devem ser 4 da manhã… vem aí
a enfermeira com a injecção do costume… continuam a dizer que
esta minha loucura não tem cura… eu sei que não tem, como poderia
ter?… Como me posso curar da tua ausência?… Como posso viver
nesta minha morte?… Não sei meu amor, não sei… A enfermeira me
aconchegou os cobertores… sabes, está frio e sinto frio dentro de
mim… já não consigo falar… apenas olho no vazio… neste vazio
que me preenche… Mas não preciso de mais nada, basta-me a
lembrança dos momentos que vivemos… basta-me esta dor que vive
comigo… bastam-me estas lágrimas… o meu pão de cada dia… o
meu alimento neste vazio… sinto os olhos pesados… sei que vou
dormir mais um pouco mas estou feliz pois vou dormir contigo nos meus
braços, nestes braços que não te sentindo te lembram, te tocam, te
apertam contra mim… lembras-te de quando adormecíamos assim?…
Como era bom acordar a meio da noite com os braços dormentes e
sentir o calor do teu corpo abrasar este meu ser que de tanto te
querer te perdeu… oh meu amor, como te amo… como sinto a tua
ausência… vou dormir… até mais logo… lembra-te de mim como me
lembro de ti… um resto de noite feliz, meu amor…”
a tua Maria
a tua Maria
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