“… tivesse
eu as capacidades de um deus, mesmo dos da antiguidade, de um Zeus,
de um Júpiter ou mesmo de um Marte ou até mesmo, porque não, duma
Diana… tivesse eu os poderes de tudo demonstrar sem ter de provar,
ou seja, bastar ser e não ter de provar que sou o que sou ou quem
sou… tivesse eu toda essa força mágica e logo seria a mais pura
prova do que há muito persigo: seria o Amor transformado em entrega,
seria o Amor pleno, aquele que vive de si mesmo para se bastar e na
totalidade se entregar… o Amor que deixaria de o ser para passar ao
patamar superior do estatuto da fórmula única da vida plena que é
Amar… passamos tempos e tempos sem sabermos o que é isso do Amor
ou como é que se Ama e um dia, sem sabermos como, tudo surge ali, à
nossa frente, sereno, demonstrativo da nossa anterior ignorância e
dizendo-nos bem no nosso interior que o Amor está aqui dentro de
cada um de nós e, como tal, livre de ser entregue ao próximo… e é
nesse momento, quando o Amor sai de dentro de nós e o entregamos a
alguém que ele se transforma numa dádiva e assim, de uma forma tão
simples, passamos a Amar… esta entrega, esta forma de se estar na
vida, pressupõe a inexistência de condições incluindo o não
retorno, ou seja, amar mesmo que não nos amem… essa é a única
forma de provar a nós mesmos que estamos a Amar e não tão
pobremente apenas a gostar… é por isso que estou sempre a falar do
mesmo, a batalhar todo o tempo na tentativa de demonstrar, sem ter de
provar, que Amar é a minha forma de ser… tentar provar que se ama
é uma forma de se negar a si mesmo porque quem ama não precisa de
se afirmar: entrega-se, apenas… entrego-me a ti nas mais pequeninas
coisas, mesmo até nos elementos que não são visíveis mas que
existem, que estão lá, em ti, vindas de mim… entrego-me a ti sem
perder a minha identidade, sem deixar de ser eu mesmo mas o que sou o
transmito, o envio, o entrego em totalidade… entrego-me a ti em
serenidade, em luz, em paz, em harmonia, com força, com garra, com
espírito e alegria… entrego-me a ti num sorriso, num toque, numa
palavra, numa frase… entrego-me a ti num beijo, num corpo, numa
alma, com a totalidade do meu eu… entrego-me a ti tal como sou,
impuro talvez, mas com doçura, em humildade e sem qualquer altivez…
entrego-me a ti por amor…”
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