“...
o sono tinha chegado sem eu dar por isso... tinha possuído o meu
corpo de uma forma velada, quase perfeita por tão doce e suave me
ter penetrado... e quando tal acontece apenas temos de nos abandonar
ao seu domínio, ao seu comando e, por vezes também, ao seu
desmando, às suas tropelias... gosto de ser possuído pelo sono
porque sei que durante o seu reinado quem vai ser o“rei”
vou ser eu porque ele não me impede de sonhar... e, durante o tempo
que ele me toma como seu, eu comando, sem possuir a batuta, a
orquesta das imagens que povoam a minha mente suavemente adormecida e
tranquila na procura... e é nesse momento que te vejo... que te
olho... que me permito ser o que não posso ser aquando acordado... e
é nesse momento que vejo o quão me atrais nesse olhar inquieto e
nessa boca entreaberta pedindo o que não se pede mas o que se dá
ou, no mínimo, se sugere... e deleito-me a olhar essa boca... esses
lábios tão perfeitamente desenhados que me lembram pétalas de uma
qualquer flor, porque doce, porque de sabor a mel... esse mel que
escorre e que eu sorvo com a língua que se atreve a neles pousar de
mansinho... e a doçura leva os meus sentidos ao êxtase e olho,
então, o teu corpo... está ali, presente, nada ausente, de alva
pele acetinada, pronto a ser meu numa posse impossível apenas porque
sonhada... mas eu não sei que estou a sonhar e vogo por ele com
prazer e lento voo onde me deixo pousar... sinto o doce calor de um
corpo morno e sinto os teus braços me abraçar... percorro todos os
recantos dos teus encantos, navego em todas as ondas desse corpo
sedento da procura, do encontro, do toque... aninho-me nele e a minha
boca procura, com doçura, a tua... e, de novo, num beijo suave mas
profundo eu atinjo o âmago, o cerne, do teu ser e sem saber mas tão
somente por um simples querer, eu te tenho por breves instantes, eu
te possuo por um momento, eu te tenho naquela fracção em que o
sonho comanda a vida e naquele sono perfeito eu sinto o meu coração
bater, mesmo ao de leve, no teu desejado peito... esse peito onde me
deito e me elevo com redobrado desejo, para de novo beijar essa boca
que se abriu, por instantes, ao doce embalar do sonho de alguém, que
mesmo a sonhar, vive o supremo desejo de amar...
“
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