terça-feira, 28 de abril de 2015

SONHAR O DESEJO

... o sono tinha chegado sem eu dar por isso... tinha possuído o meu corpo de uma forma velada, quase perfeita por tão doce e suave me ter penetrado... e quando tal acontece apenas temos de nos abandonar ao seu domínio, ao seu comando e, por vezes também, ao seu desmando, às suas tropelias... gosto de ser possuído pelo sono porque sei que durante o seu reinado quem vai ser orei” vou ser eu porque ele não me impede de sonhar... e, durante o tempo que ele me toma como seu, eu comando, sem possuir a batuta, a orquesta das imagens que povoam a minha mente suavemente adormecida e tranquila na procura... e é nesse momento que te vejo... que te olho... que me permito ser o que não posso ser aquando acordado... e é nesse momento que vejo o quão me atrais nesse olhar inquieto e nessa boca entreaberta pedindo o que não se pede mas o que se dá ou, no mínimo, se sugere... e deleito-me a olhar essa boca... esses lábios tão perfeitamente desenhados que me lembram pétalas de uma qualquer flor, porque doce, porque de sabor a mel... esse mel que escorre e que eu sorvo com a língua que se atreve a neles pousar de mansinho... e a doçura leva os meus sentidos ao êxtase e olho, então, o teu corpo... está ali, presente, nada ausente, de alva pele acetinada, pronto a ser meu numa posse impossível apenas porque sonhada... mas eu não sei que estou a sonhar e vogo por ele com prazer e lento voo onde me deixo pousar... sinto o doce calor de um corpo morno e sinto os teus braços me abraçar... percorro todos os recantos dos teus encantos, navego em todas as ondas desse corpo sedento da procura, do encontro, do toque... aninho-me nele e a minha boca procura, com doçura, a tua... e, de novo, num beijo suave mas profundo eu atinjo o âmago, o cerne, do teu ser e sem saber mas tão somente por um simples querer, eu te tenho por breves instantes, eu te possuo por um momento, eu te tenho naquela fracção em que o sonho comanda a vida e naquele sono perfeito eu sinto o meu coração bater, mesmo ao de leve, no teu desejado peito... esse peito onde me deito e me elevo com redobrado desejo, para de novo beijar essa boca que se abriu, por instantes, ao doce embalar do sonho de alguém, que mesmo a sonhar, vive o supremo desejo de amar...

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