“...
terminaram as palavras... as letras deixaram de existir... as frases
já não podem ser formuladas e a comunicação escrita ou oral
findou... o Homem deixou de poder dizer um simples vocábulo e nem um
só ditongo se consegue escrever ou articular... mas a sua
necessidade de gritar leva-o a inventar novas formas de comunicar...
passa a usar o seu corpo para insinuar as sílabas e começar a
juntar os elementos que formam a ideia, a imagem ou apenas o
sentido... o seu corpo passa a ser a caneta ou a corda vocal... e as
mãos tocam ali, acolá ou aqui... movem-se no espaço e sentem que
do outro lado existem outras mãos que fazem o mesmo... e todos
começam a gesticular... e do gesto, passam ao encontro, ao toque
mútuo, ao abraço, ao enlace, à carícia, ao beijo, à ternura, a
todo o género de acto que defina um desejo de comunicar, de dizer:
estou aqui, estás aí, podemos falar?... então trocam-se os toques
e todos se movem no mesmo sentido... no Mundo existe o silêncio mas
passou a existir o abraço... algo que o Homem já havia esquecido há
muito... e apesar de o riso não ser articulado, existe o sorriso...
e apesar do grito se ter silenciado a lágrima pode escorrer pela
face e dessa forma se diz o que se passa, o que se sente, o que se
deseja, o que se vê e o que se quer que seja entendido... o Homem
calou a voz mas não consegue deixar de comunicar... e o seu corpo
passa a ser o elemento base dessa acção... e, dessa forma, mesmo
não podendo dizer que se ama, pode-se dizer o mesmo num sorriso, num
beijo, num toque, num abraço, num desejo... e o Amor, por mais que o
Homem possa perder as suas faculdades, jamais morrerá... e Amar,
continuará a ser o único caminho!...”
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