“…quis
ser um poeta que tivesse asas… e poesia em cada voo… quis ser um
poeta cujas palavras vos enchesse a casa… e que vos reencontrasse
em cada dor… quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e
terra… e que com todos esses elementos criasse um novo ser… mas
há poetas que são simplesmente poetas… há poetas que ainda nem
sabem que o são… há poetas… imensos… tentei um dia ser um
desses poetas… e sei
hoje que um poeta nunca morre… faz-se em vida mesmo na morte,
soltam as asas e levam-vos o vento… protegem-vos e fazem-se ao
caminho convosco… peregrinam em vós… que com ele caminhais…
bebeis o sorriso dos poetas… vedes pelos seus olhos, e por detrás
desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da
vossa própria alma… e é em dias de negro e frio que mais
precisais dos poetas… porque eles são fonte, força e semente…
um poeta nunca mente… ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa
madrugada e o fim de tarde… a vossa lua nova ou lua cheia… são
perenes todos os poetas… nascem e renascem… mesmo sem nunca
morrerem… nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir… quis
ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo… podemos
ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e
deturpados… simplesmente somos quem somos … podemos ser
retalhados, citados e aviltados… podemos ser usados como arma de
arremesso… podemos ser teorizados e complicados… podemos ser
mistificados e cristalizados… podemos até servir de pasto em
chamas inquisitoriais… não somos orações, nem homilias nem
credos… e não nos deixamos cair… não somos ameaça do fim do
mundo… não somos propriedade de ninguém… não somos espada nem
guilhotina… não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se
apropria… somos apenas poetas… somos simplesmente imensos… não
cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia… somos de todos os
tempos… não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra…
somos apenas asas… não somos anjos… somos apenas amor e amamos…
e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem
voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de
dor e de amor… sei também, como sabem todos, que não há palavras
nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num
anjo…”
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