“...
as presenças são o tudo que se deseja viver... entregamo-nos ao
olhar, ao toque, ao sabor, à doce noção de que estamos exactamente
onde e como o havíamos desejado... as presenças são o terminar da
ânsia e o início da suave cedência à ternura e ao começo da tão
almejada aventura... as presenças são o tudo por que lutámos na
véspera e na antevéspera e nos dias que as antecederam... não
sabemos, à vezes, quantas vésperas esperamos até ao dia chegar...
umas vezes, o tempo passa mais depressa, outras vezes, ainda que
demore o mesmo, tendem a passar mais depressa porque a ânsia o
empurra e o dia de amanhã torna-se o hoje futuro do dia de ontem que
se houvera esperado... mas, passe o tempo que passar, as presenças
que se tornam presença, esquecem a ausência e se transforma na
entrega que se aguardou... e a presença vive das presenças que as
ausências não deixam viver... e a entrega flui e o mel barra o pão
doce do corpo que o forma ora em suaves sabores, ora em orgias de
paladares que se confundem por tão diversos e contínuos em que se
tornam... e as presenças amornam então em carícias que só mesmo
as presenças permitem... mas o tempo voa e desaparece porque
enquanto presentes não damos por ele passar... e, de repente, sem
darmos por isso, a ausência se torna de novo presente na presença
das presenças e deixa que estas esvaziem os corações numa dor
surda e desmedida porque sabedores da partida... e as partidas
aparecem de repente e as mãos tentam segurar o tempo que resta mas a
força da partida depressa faz deslizar os dedos pelos dedos até
ficarem no toque das pontas uns dos outros... fica também o beijo
doce da despedida e o doce olhar, ainda que triste, da partida... mas
breve, o sorriso de novo surgirá porque rápido uma nova presença
virá e o ciclo se fecha num círculo de desejo até que uma nova
presença se transforme ela só no mais terno e sedento beijo..."
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